São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Segura o Tchan, a grande sacada

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não, não fiquei louco. Não a ponto de considerar "É o Tchan" alguma coisa além de uma vulgaridade barata.
Mas não é nenhuma novidade que muito antes de ir no sapatinho ir, a palavra "tchan" já existia. E pegou como título de uma novela, na então agonizante TV Tupi. A trama era estrelada por Raul Cortez, Silvia Massari e Nádia Lippi.
Títulos, sejam de peças, filmes ou novelas, sempre foram motivos de complicadas reuniões de diretoria. Não é raro ouvirmos que tal novela tem um "título provisório", enquanto não se acha um nome interessante que chame a atenção do público.
"Nova Califórnia" virou "Fera Ferida", "A Filha da Mãe" virou "Bebê a Bordo", "O Metro" foi ao ar como "Duas Vidas" (que castigou o inocente público, obrigando-o a ouvir Mário Gomes cantar) e "Chega Mais" era originalmente o pouco original "Tom e Gelly".
Assim como "Tchan, A Grande Sacada", muitas vezes usou-se a gíria do momento ou lançou-se uma nova para nomear uma novela. Exemplos são "O Bofe", "O Bolha", "O Cafona", "O Rebu", "Cambalacho" ou a agora monstruosamente ultrapassada "Te Contei?". E não dá vontade de morrer de rir quando nos lembramos que houve uma novela chamada "Cuca Legal"?
No entanto, é engraçado notar que, com o passar dos anos, as gírias mudaram de sentido: "Tchan", basicamente, era a versão anos 70 da palavra "it". Clara Bow, nos anos 20, tinha "it". Já Silvia Leblon tinha aquele "tchan".
Pelo título de uma novela, você já sabe o que te espera logo após o jantar. As lágrimas vão correr como cataratas do Iguaçu se o título for "Abnegação", "Vidas Marcadas" ou "A Pequena Órfã" (a choradeira nesta última foi tanta que ninguém percebeu que a atriz principal, Patrícia Aires, foi substituída por Marize Ney no meio da novela).
Ódio vem em nomes como "Anjo Maldito", "A Intrusa" e "As Bruxas" -intricado dramalhão com tendência para a psicanálise que nada mais fez além de mostrar Maria Isabel de Lizandra entrando e saindo de um Karman Ghia.
Já o amor... "é nosso". Ou, "...Tem Cara de Mulher", ou "...com Amor se Paga". Há também o amor impossível de "O Homem Proibido", "É Proibido Amar", "Em Busca da Felicidade", "A Moça que Veio de Longe".
Nomes de mulher estão entre os favoritos: "Gina", "Helena", "Teresa", as escravas "Anastácia", "Isaura" e "do Silêncio", "Yoshico, um poema de amor" (representando a comunidade nipônica) e, claro, a super-mulher, "Supermanoela".
Houve ainda "Música ao longe" e, a propósito, foram as músicas as maiores responsáveis por títulos de novelas. Mário Prata fez sua estréia com "Estúpido Cupido", musiquinha agradável de Neil Sedaka cantada por Cely Campello.
E o que falar de "Pecado Rasgado", "Baila Comigo", "Sem Lenço, sem Documento" e "Pai Herói", o lacrimoso hino de amor filial de Fábio Jr., que rivaliza em mau gosto com "Querida Mamãe", de Angela Maria.
Não podemos esquecer ainda de "Melodia Fatal", onde estreava uma das campeãs em telenovelas, Nívea Maria.
"Brega ou Chique", o título é uma coisinha fascinante. É o que eu sempre digo para "Nossa Filha Gabriela": pode sair com sua "Patota", que eu vou ficar aqui remexendo nas minhas "Memórias de um Gigolô" antes de encontrar "Minha Doce Namorada", aquela "Moça do Sobrado Grande". Mas, antes de sair, "Pão, Pão, Beijo, Beijo".

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