São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Relaxar é solução para evitar recaída

AB
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana passada, atrasada entre uma reunião e outra, o bip tocando, o táxi enroscado no engarrafamento, a médica Cecília Amaro de Lolio começou a sentir os lábios formigando e a cabeça doendo. Eram sintomas da síndrome da fadiga crônica, que deu os primeiros sinais ainda em 1989.
Se a cena do táxi tivesse acontecido no ano passado, Cecília entraria em pânico e ficaria paralisada, sem conseguir sair do carro.
Hoje, a médica adotou "truques" para sobreviver a situações de estresse. Costuma escolher um som e passa a repeti-lo na mente, desligando-se de tudo que está a sua volta. Senta-se comodamente -mesmo no banco de trás de um táxi-, relaxa a musculatura e passa a sentir a respiração inflar e desinflar o abdome.
Cecília é uma das vítimas da síndrome que reverteu seu quadro adotando um novo estilo de vida. De irritada, mal-humorada e pessimista, transformou-se em uma pessoa "piadista" e de bem com a vida, segundo ela própria.
Cecília afirma que ainda não está completamente curada -"Ainda me sinto fraca para levantar um braço"-, mas seu "tratamento" estaria dando tão certo que decidiu escrever a respeito. Publicou o livro "Reduza seu Stress" e produziu uma cartilha sobre a síndrome para médicos e leigos.
No ano passado, Cecília passou quase cem dias em hospitais, abatida pela síndrome associada a uma hepatite C. Os primeiros sinais de cansaço apareceram quando preparava sua tese de doutorado."Eu dormia e acordava cansada. Tirei férias, deixei a cidade, cortei os compromissos, mas o cansaço persistia."
A fraqueza e a sensação de cansaço eram tão intensas que Cecília não conseguiu mais trabalhar, até que ficou de cama e daí para o hospital. Durante vários anos foi medicada como maníaco-depressiva.
"Parei com os remédios quando vi que não era nada disso", afirma.
Cecília -que é doutora em saúde preventiva pela USP- acredita que um estresse extremo e acontecimentos marcantes na vida da pessoa estejam por trás da doença. Na sua opinião, fatos como um acidente grave ou uma violência sofrida na infância ficam armazenados em algum compartimento do cérebro que não tem a ver com a memória usual. Quando o organismo sofre algum impacto -como um estresse-, ocorreria uma espécie de curto-circuito que daria origem à síndrome.
O antídoto seria o relaxamento, uma relação menos atritante com as pessoas e com os fatos do cotidiano. "A casa caiu; não chore, reconstrua. Pegou um câncer, tem que operar, opere."
Cobranças que as pessoas fazem a si mesmas, o tempo todo, são uma das causas do estresse. Querer ser o melhor sempre leva a uma inflexibilidade que acaba em sofrimento. Excesso de exigência e detalhes também, diz a médica.
O diagnóstico da doença também exigirá uma nova relação médico-paciente, afirma Cecília. Queixas dos pacientes seriam diagnosticadas como manifestações da doença só com um detalhado histórico do paciente.

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