São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Problema não é pesquisado no Brasil

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A existência ou não de discriminação sexual na ciência brasileira divide os dirigentes das agências de financiamento à pesquisa, mas não existe um estudo na área.
"Não me surpreenderia que alguém mostrasse que há esse tipo de coisa aqui no Brasil", afirma o diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), José Fernando Perez. "Mas tentamos evitar isso e temos várias pessoas do sexo feminino entre aqueles que avaliam os projetos de pesquisa."
No entanto, para Perez, "o que está por trás das cabeças escapa ao controle. Todas as instituições enfrentam esse problema. O que mais surpreende é que essa questão seja verdadeira até na Suécia".
Já o presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), José Galizia Tundisi, afirma não ter "nenhuma indicação de que isso poderia estar ocorrendo no CNPq".
"Nosso sistema está sendo constantemente aperfeiçoado", dizem igualmente Tundisi e Perez.
Diferenças
As mulheres também têm impressões diferentes. A superintendente de pesquisas no país da Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Jacira Beltrão, afirma que a seleção dos bolsistas da agência é feita pelos próprios cursos de pós-graduação.
Mas Jacira Beltrão, que é geóloga, diz acreditar que, "para que uma mulher seja considerada tão boa (quanto um homem), é necessário que ela seja mais produtiva. Você precisa realmente ter um currículo muito rico".
"Isso é mais um sentimento em relação a uma cultura machista", afirma. "O esforço para nós é maior em função dos encargos familiares que temos. Mas eu não tenho números para mostrar isso."
A bióloga Johanna Dobereiner, a cientista brasileira (naturalizada) mais citada no mundo, diz não ter dificuldades por ser mulher.
"Aqui onde trabalho nunca enfrentei problema de preconceito às mulheres", afirma a pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Mas não é apenas a conclusão de que há discriminação sexual entre os avaliadores suecos que provoca reações diversas no Brasil.
Agnes Wold e Christine Wenneras defendem no artigo da "Nature" que os processos de avaliação por pares devem passar a ser abertos -e não sigilosos.
A mesma posição vem sendo defendida no Brasil pelo filósofo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Roberto Romano.
Tundisi, do CNPq, é abertamente contra: "O sigilo deixa o avaliador muito mais à vontade para exercer sua função. Senão vira uma arena onde cada um vai defender sua posição."
(FR)

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