São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Fadiga inexplicável atinge 45 mil por ano

LUCIA MARTINS
AURELIANO BIANCARELLI

LUCIA MARTINS; AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Doença misteriosa que rouba energia e prende vítimas a cama por meses assusta brasileiros

Uma doença capaz de imobilizar as vítimas por anos está desafiando médicos e assustando pacientes no mundo inteiro. No Brasil, segundo cálculos norte-americanos, há 45 mil novos casos ao ano.
O mal, de causas ainda desconhecidas, foi batizado de síndrome da fadiga crônica. Suas vítimas são abatidas por um cansaço enorme, que as mantém na cama por meses. Nunca mais voltam a ter a mesma força física.
Como um predador que ataca no escuro, a doença parece investir aleatoriamente, não avisa quando vai surgir e se manifesta nos momentos mais diversos da vida.
A corretora de imóveis Vera Regina Traversa acabava de chegar de uma viagem a Nova York quando se sentiu fraca. Não teve mais forças para desfazer as malas. O engenheiro Akio Kota passou o domingo no clube e na segunda-feira debruçou-se esgotado na prancheta de trabalho.
Os primeiros casos foram descritos nos anos 50, depois que grupo de enfermeiras do Royal Free Hospital, de Londres, caiu de cama, sem forças. Nos EUA, estariam surgindo 82 mil novos casos por ano. Na Inglaterra, 150 mil casos já foram identificados. Segundo os médicos, embora descrita nos anos 80, a doença pode estar fazendo vítimas há muito tempo.
Em Essex (Inglaterra), o neurologista Leslie Findlay está há 12 anos buscando uma resposta para o mal. Findlay abriu uma clínica por onde já passaram 3.000 pacientes. Segundo ele, trata-se de uma desordem cerebral que se manifesta em alguns num momento de suas vidas em que um grande estresse se associa a uma virose.
Em São Paulo, o neurologista Acary Bulle Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo, já tem 15 pacientes com o mesmo quadro. Ele concorda com a hipótese de uma alteração funcional no sistema nervoso central.
Sem causas definidas, os médicos vêm tratando seus pacientes à medida que os sintomas surgem. A maioria das vítimas relata grande fraqueza muscular. A doença costuma surgir depois de uma febre baixa e constante, como uma gripe não curada. Em parte dos pacientes, está associada a uma virose.
Muitas das vítimas têm dores de cabeça, problemas de visão e distúrbios neurológicos que atrapalham o sono e a memória.
Para tratá-las, os médicos estão usando um coquetel de remédios. Em busca de alternativas, os pacientes passaram a se organizar, criando grupos de auto-ajuda. O primeiro surgiu na Inglaterra há 21 anos. A ME Association, em Londres, reúne 9.000 membros.
Em São Paulo, a médica Cecília de Lolio está fundando o primeira associação no Brasil. Em dois dias, recebeu mais de 30 telefonemas.

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