São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Bolsa ainda sobe, mas requer cautela

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Midas tocou novamente na Bolsa de Valores. Neste ano, as 49 ações mais negociadas na Bovespa subiram 61%, quase alcançando, em cinco meses, a estupenda valorização de 64% obtida no ano passado.
Diante de tal desempenho, a Bolsa volta a atrair novos investidores -os chamados "patos", que sempre entram na alta e saem na baixa- e suscita a velha dúvida das épocas de vacas gordas: será que ainda há tempo de ganhar um dinheiro extra com ações?
Para tentar esclarecê-la, a Folha conversou com experientes administradores de recursos de terceiros e analistas. Para a maioria, o gás das Bolsas ainda não acabou -o jogo apenas ficou menos rentável e mais perigoso, sujeito a solavancos no curto prazo.
"Nos próximos meses, haverá espaço para maiores altas nas Bolsas, as ações devem crescer mais que os juros das aplicações de renda fixa. Mas os riscos estão maiores", avalia Walter Brasil, presidente da Lloyds Asset Management, empresa de gestão de recursos ligada ao Lloyds Bank.
Como um fator de risco, ele ressalta que a festança na Bolsa de valores de São Paulo foi animada pela alta das ações da Telebrás -a principal blue chip brasileira disparou 86,3% até sexta-feira passada, segundo a Economática.
O aumento real das tarifas telefônicas e o início da privatização da telefonia celular animaram os investidores nos papéis da empresa.
"O mercado ficou mais concentrado numa única ação. Ficaremos na mão se o cenário internacional mudar e o fluxo de investimentos para os mercados emergentes cair, o que pode acontecer nos próximos dois anos com a recuperação econômica do Japão", diz Brasil.
Marcelo Audi, responsável no país pela área de análise de investimentos da Merrill Lynch, concorda que a Bolsa crescerá ainda mais neste ano, liderada pelas ações de empresas de telecomunicações e outras estatais do setor elétrico e de petróleo. Mas sem "explosões".
"A tendência positiva continua, pois os fundamentos da economia não mudaram e houve avanços políticos, como a aprovação da emenda da reeleição. Privatização, reajustes tarifários e a profunda reestruturação das empresas privadas são conquistas permanentes", ressalta Audi.
Um olhar acurado nos índices das Bolsas vai detectar parte do fenômeno descrito pelo analista: as ações das empresas privadas também tiveram forte valorização neste ano, ainda que bem abaixo das ações de primeira linha.
A cesta de papéis do FGV-100 (exclui estatais e bancos) subiu mais que os 14% alcançados em 96, com alta de 19% até agora, segundo a Economática.
"O fôlego das Bolsas neste ano tem mais consistência que no passado. Mas quem quiser investir em ações deve aplicar de forma parcelada, um pouco todo mês", aconselha Fábio Rodrigues Oliveira, diretor da área de fundos de investimento do Banco de Boston.

LEIA MAIS sobre a tendência das Bolsas às pág. 2-8 e 2-9

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