São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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'Grafistas' reforçam a análise otimista

Gráficos dizem a hora de comprar e vender

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os analistas técnicos, que usam os gráficos de preço das ações como principal instrumento de trabalho, convergem com a análise de fundamentos em um ponto: consideram que as Bolsas devem continuar em trajetória de alta.
Enquanto a análise técnica se concentra no estudo dos gráficos das cotações e dos volumes negociados, a de fundamentos privilegia os números da economia, o cenário político e estudos setoriais.
Não que o analista técnico ignore esses pilares. Na verdade, o estudo dos gráficos deve ser visto como um instrumento adicional -porém decisivo- na hora, por exemplo, de aconselhar a compra ou a venda de um papel.
Quando olha para esses números, a intenção do analista técnico é justamente identificar os movimentos dos grandes investidores -ou de um grupo de investidores- e a partir daí traçar sua própria estratégia.
Isso porque, conforme explica o analista técnico Fernando Tinoco, da corretora paulistana Safic, os gráficos são uma resultante das expectativas do mercado.
"É preciso analisar esses fluxos de dinheiro com o máximo de isenção emocional. E perceber quando esses investidores estão acumulando ações e quando estão distribuindo", afirma Tinoco.
O método serve também para detectar quando o mercado embarca numa onda exagerada de otimismo ou de pessimismo.
Detector
Nessas horas, é o momento de tentar "ler" nos gráficos, com a ajuda da estatística e da matemática financeira, como os grandes grupos estão se posicionando.
"O fato é que o peso dos grandes é tanto que ele acaba sendo detectado", afirma o analista.
Tinoco diz inclusive que prefere, em alguns momentos, deixar para tomar conhecimento do noticiário econômico no dia seguinte.
"Prefiro fazer a análise técnica, de fluxo financeiro, e me inteirar das notícias mais tarde."
Na avaliação de Tinoco, Telebrás, o principal papel do mercado com mais da metade dos negócios, continua com "impulsão". Num prazo de dois meses, ele diz que o papel pode subir cerca de 20%.
Inô Gazotti Jr., "trader" do banco inglês Lloyds, que também usa a análise técnica, afirma que, antes de se debruçar sobres as planilhas de preços, ele prefere conhecer o que chama de "tendência primária" do mercado financeiro.
Aí ele inclui o processo de estabilização da economia pós-Real, que fez os juros recuarem, desfavorecendo os investimentos de renda fixa e ampliando o número de interessados em mercados de risco.
Além disso, há o Programa Nacional de Desestatização do governo federal, que atrai a atenção -e o dinheiro- dos investidores.
"Quando se olha para os fundamentos, a situação do Brasil está melhorando, ainda que, em alguns casos, a melhora seja lenta. E no cenário externo há relativa tranquilidade", avalia.
Tendo então esse quadro geral na cabeça, diz Gazotti Jr., é a hora de olhar para os gráficos.
"São eles que vão me dizer os melhores preços para entrar ou sair de um papel", diz.
No caso dos papéis de segunda linha das Bolsas de Valores, os analistas técnicos consideram que o momento também é de alta das cotações.
E isso depois dos papéis amargarem alguns anos difíceis, quando precisaram se ajustar à abertura da economia a à queda da inflação.

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