São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Angola pede que brasileiros fiquem

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A LUANDA

O presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, pediu ao seu colega brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, para que a companhia de engenharia do Exército do Brasil integrante das forças da ONU que verificam o acordo de paz local permaneça no país mesmo depois de a ONU ter encerrado sua missão, no final de agosto.
O pedido ocorreu antes da morte de um soldado brasileiro em Angola, incidente que talvez diminua as chances de seu atendimento.
O Brasil foi o primeiro Estado a reconhecer o governo independente de Angola, em 1975. Apesar disso, da afinidade cultural entre os dois países e das grandes oportunidades econômicas existentes em Angola, o Brasil ainda é um parceiro modesto daquele país.
O papel que a União Soviética representou para Angola entre 1975 e 1991 está sendo assumido pelos EUA, que só reconheceram o governo angolano em maio de 1993 (depois de ele ter renunciado ao marxismo) e agora compram metade das exportações de Angola e vão fazer investimentos privados de US$ 4 bilhões no país em 1997.
Os EUA estão apostando alto no processo de paz em Angola, apesar de todos os seus riscos. Após 19 anos de guerra civil, o governo e o grupo guerrilheiro Unita (que recebia apoio dos EUA) assinaram protocolo de paz em Lusaka, Zâmbia, em novembro de 1994. O acordo só começou a ser implementado em 11 de abril passado, quando os 67 deputados (num total de 220 na Assembléia Nacional) e quatro ministros e sete vice-ministros da Unita foram empossados no Governo de União e Reconstrução Nacional (Gurn). Mas as dificuldades políticas ainda são inúmeras.
A Unita não tem poder de fato no Gurn, a não ser nas regiões sobre as quais sempre exerceu controle militar (no nordeste do país, zona em que os diamantes estão concentrados). Calcula-se que pelo menos 20 mil dos seus melhores guerrilheiros (de um total de 70 mil) ainda não foram desmobilizados. Em Cabinda, onde estão cerca de 70% das reservas de petróleo do país, três grupos armados reivindicam a independência da Província. Inúmeras denúncias de corrupção e desrespeitos aos direitos humanos, tanto da parte do governo quanto da Unita, continuam a ser feitas por entidades não-governamentais. Cerca de 85% dos presidiários nunca foram julgados. A degradação urbana em Luanda é escandalosa. Segundo a ONU, há pelo menos 10 milhões de minas enterradas no país, que tem a maior população de amputados do mundo (70 mil pessoas). O salário médio é de US$ 6 mensais.
Mesmo assim, Angola nunca teve expectativas melhores, graças à realidade política da região após a queda de Mobutu no antigo Zaire.

O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva esteve em Luanda a convite da organização não-governamental World Learning, para ministrar um curso de 12 dias para jornalistas angolanos.

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