São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997 |
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Refugiados no Brasil começam a voltar
MÁRIO MOREIRA
O movimento se intensificou este ano. De janeiro a maio, oito auxiliados pela Cáritas voltaram para Angola, e outros sete estão em processo de repatriação. "Eles dizem que querem ajudar no crescimento do seu país", afirma a coordenadora do Centro de Atendimento a Refugiados da Cáritas, Heloísa Nunes. O número de angolanos que vêm para o Brasil também caiu. Atualmente, chegam ao país cerca de 20 por mês. No auge da imigração, em fevereiro de 93, vieram 266. O fluxo de angolanos para o Brasil começou em 1993, com o reinício dos combates em Angola. Na época, o Brasil era o único país que dava visto de entrada a angolanos, que vinham atraídos pelo idioma comum, o português. Os refugiados que vivem no Brasil recebem ajuda financeira do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Essa entidade é que reconhece, oficialmente, quem é refugiado. Segundo o Acnur, há 1.282 refugiados angolanos no Brasil, dos quais 361 recebem o auxílio financeiro básico de R$ 115. A ajuda é dada enquanto o refugiado espera o reconhecimento de sua condição e nos três meses seguintes à concessão dos documentos pelo governo brasileiro. O presidente do Grêmio Unidos de Angola -organização que congrega 1.900 angolanos residentes no Brasil-, Francisco Melo, 34, acusa o Acnur de suspender a ajuda a muitos refugiados, o que estaria determinando emigrações para a Europa e os EUA. "Além disso, a ajuda é irrisória." Corte O oficial de proteção (espécie de consultor jurídico) do Acnur, José Henrique Fischel, diz que a entidade apenas retirou, no segundo semestre de 95, a ajuda de pessoas que não tinham mais direito a ela. "Muitos que haviam chegado em 93 e 94 ainda recebiam nossos recursos", afirma. Segundo ele, o número de angolanos assistidos pelo Acnur caiu de 1.278 para 361 (redução de 71,75%). Para Fischel, os angolanos deixam o Brasil devido a sua precária condição econômica. "Muitos tinham a idéia de fazer a América aqui, mas não conseguiram." Fischel cita o caso de um refugiado casado com uma brasileira, com dois filhos nascidos aqui e que está pleiteando a repatriação. Formado em fisioterapia, o refugiado vê boas perspectivas profissionais em Angola, devido ao grande número de mutilados pela explosão de minas. Alguns angolanos residentes no Brasil, porém, ainda consideram prematuro voltar. É o caso do economista Garcia Mabanza, 42. Ganhando cerca de R$ 1.000 mensais como professor de alemão e do curso de pós-graduação em economia empresarial da Unigranrio (Universidade do Grande Rio), em Duque de Caxias, ele se considera uma exceção entre seus compatriotas. É formado em economia pela Universidade de Bonn (Alemanha) e faz doutorado em economia monetário-financeira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por enquanto, ele diz que acha cedo para voltar. Mas dá a entender que gostaria de fazê-lo um dia: "O Brasil já tem muitos doutores em economia". Texto Anterior: Victor Fasano vira 'persona non grata' em Angola Próximo Texto: Angolanos reclamam da falta de empregos Índice |
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