São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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Fujam

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Supõe-se que uma Companhia de Engenharia de Tráfego seja um organismo que reúna especialistas tanto em engenharia como em tráfego, certo?
Se é assim, o único conselho restante a dar aos paulistanos é simples: fujam.
É a conclusão inescapável depois que um buraco de 20 metros de diâmetro "engoliu" quatro carros exatamente no pátio da CET, a sigla da Companhia de Engenharia de Tráfego.
Se o pessoal que cuida da engenharia e do tráfego não é capaz de detectar nem sequer o risco iminente no seu próprio quintal, que confiança o cidadão pode ter na capacidade da empresa de cuidar das obras de engenharia no quintal dos outros e de organizar o tráfego?
É natural, nessas circunstâncias, que a cidade de São Paulo esteja se acabando, lenta, mas inexoravelmente.
No fundo, a história da ponte dos Remédios é a história da cidade nos últimos tempos: afunda uns tantos centímetros por dia, ninguém sabe se vai desabar, se vai resistir, por quanto tempo, se vai ser necessário implodi-la e assim por diante.
São Paulo está assim também: afunda no caos dia a dia, ninguém sabe se vai parar definitivamente ou não, em que dia ocorrerá o colapso definitivo. Só falta alguém aparecer com a idéia de implodir a cidade junto com a ponte, como solução que purgaria todos os seus pecados.
Enquanto esse dia não chega, seria o caso de acionar o Procon contra o Duda Mendonça, o mágico do marketing malufista. Na campanha eleitoral de 1996, Duda criou, entre outros, o slogan "não deixe São Paulo parar", sugerindo que só votando em Pitta a cidade não pararia.
Já era mentira à época: a cidade parava todos os dias, nas horas de pico de tráfego. Mas, agora, já não há mais horário para a cidade parar, sem contar o fato de que as obras-primas que criou no culto ao automóvel estão caindo de podres.

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