São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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Nação e palanque

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O malefício maior que o presidente da República causa ao Brasil, como nação e povo, é a sua prioridade política, que não apenas faz do palanque para a próxima campanha eleitoral a sua preocupação máxima como a estende à turma que não pode viver fora do poder.
Nem adianta reclamar que o país está parado enquanto a classe política -FHC à frente-, depois de uma fase em que "repensou" a máquina estatal, que estava ruim e ficou péssima, embicou para o continuísmo mais despudorado de nossa história.
"Armar o palanque" é a imagem do submundo que se agita nos grotões do Planalto e dos partidos que o apóiam. Na grande repartição pública que é o governo de FHC, não se desloca um clipe sem que se avalie a consequência desse movimento transcendental: se um clipe muda de mesa ou de papel, a quem beneficia e a quem prejudica? Como se armará o palanque depois que o clipe é acionado?
A ano e meio da eleição, com os hospitais falidos, a previdência falida, os sem-terra ameaçando aquilo que os entendidos chamam de "ordem", o salve-se-quem-puder é pensar no palanque, vivenciar o palanque, colocar o palanque na base e no cume de qualquer manifestação pública, seja a abertura da concorrência para a banda B, seja o discurso formal no encerramento da Semana pelo Bem-Estar dos Excepcionais da Terceira Idade.
Daí que FHC avisa que o vice-presidente da sua chapa será Marco Maciel. O palanque precisa ser montado em torno da união de vestais que nem sempre foram vestais e de marafonas que nem sempre foram marafonas.
A moçada da mídia que bajula o governo reclama de Collor, que veio montar seu palanque em torno da morte de frei Damião. Pessoalmente, acho menos deletério o palanque de Collor -que ainda não prejudica ninguém- que o de FHC, que transforma a nação em simples eleitorado.

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