São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997 |
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O que é balanço social?
MARTA SUPLICY No começo de maio apresentamos, juntamente com as deputadas Maria da Conceição Tavares e Sandra Starling, um projeto de lei na Câmara criando o balanço social para empresas públicas de modo geral e para as empresas privadas com mais de cem empregados.A iniciativa partiu da preocupação de introduzir na nossa legislação um instrumento que dê transparência ao que as empresas têm feito no campo social. O que é balanço social? É um documento pelo qual a empresa anualmente apresenta dados que permitam identificar a qualidade de suas relações com os empregados, com a comunidade e com o meio ambiente. É um registro do perfil social da empresa. Tal instrumento existe na França há 20 anos e faz parte da legislação trabalhista daquele país. No Brasil, esse tema foi introduzido por Herbert de Souza, o Betinho, que propôs que fossem incluídas no balanço social novas dimensões, incorporando os investimentos das empresas na comunidade (Folha, 26/3). Além dele, muitas empresas e fundações, em todo o país, vêm aderindo a compromissos com a comunidade e à idéia do balanço social. Há mesmo uma instituição, o Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), conduzido pela sra. Evelyn Ioschpe, que reúne alguns pesos-pesados da economia para conjugar experiências na prática da "responsabilidade social". Em vários países, o controle da sociedade sobre as instituições e as empresas -sejam públicas ou privadas- é exercido com muito mais força. Nos EUA, por exemplo, as atitudes concretas das empresas com relação à ecologia, à melhoria das condições de trabalho, ao tratamento igualitário às mulheres e às minorias raciais determinam investimentos e mesmo o preço de suas ações. No mundo inteiro, cada vez mais os consumidores levam em conta tais aspectos na hora de escolher produtos e serviços, pois se amplia a consciência sobre a responsabilidade da preservação do meio ambiente e da viabilidade de aplicação de parte dos lucros das empresas em projetos que beneficiem os trabalhadores e também a sociedade. Infelizmente, no Brasil há muito ainda a fazer nesse campo. O primeiro passo é criar o documento legal para garantir essas informações. Se o projeto for aprovado -como esperamos-, a sociedade terá um instrumento para exercer melhor o papel de fiscalização e controle dos atos das empresas. Um segundo passo talvez seja quebrar um pouco nossa tradição de fiscalizar apenas o que é público. Temos que continuar fiscalizando as instituições públicas, sim, mas também precisamos nos conscientizar de que empresas privadas -especialmente as maiores- são poderosos agentes sociais. Aquelas que não oferecem condições dignas de emprego, ou danificam o meio ambiente, ou se recusam a participar do desenvolvimento da comunidade precisam ser denunciadas. Ao contrário, aquelas que são exemplo de empresas-cidadãs devem ser aplaudidas, incentivadas e prestigiadas. Na Câmara Municipal de São Paulo, a vereadora Aldaíza Sposati apresentou um projeto de lei criando um prêmio para as empresas da cidade que apresentarem o melhor balanço social. O mesmo ocorreu em Porto Alegre e, espera-se, ocorrerá em outras cidades. Os empresários de visão com certeza irão apoiar nosso projeto, antecipando-se até à obrigatoriedade do balanço social, tomando a dianteira do que será a realidade nas próximas décadas: empresas transparentes, consumidores exigentes, preocupação com o meio ambiente, condições dignas de trabalho, assistência à comunidade. Os critérios para a escolha de determinado produto pelo consumidor vão incluir não apenas preço e qualidade, mas itens "cidadãos", como os que o balanço social contém. A lógica é simples. Empresas mais simpáticas aos consumidores -uma vez que investiram na melhoria das condições de trabalho e colaboraram com a comunidade na qual estão inseridas- venderão mais e, portanto, terão maior lucratividade. Essa já é a realidade em países mais desenvolvidos. A informação é um dos pressupostos da cidadania. O balanço social é um instrumento de informação. Servirá tanto para os trabalhadores e a sociedade como para os dirigentes da empresa na mensuração das suas próprias atividades. Ainda estimulará o controle da sociedade sobre o uso dos incentivos fiscais e ajudará na identificação de políticas de recursos humanos. Esperamos, enfim, que o balanço social contribua decisivamente como encorajamento à participação crescente das empresas na busca do desenvolvimento humano e da vivência da cidadania, ainda tão insuficientes em nosso país. E-mail: msuplicy@solar.com.br Texto Anterior: Armadura Próximo Texto: O Instituto Tancredo Neves em São Paulo Índice |
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