São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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As cidades ilegais do ABC

MAURÍCIO SOARES

Uma região de desenvolvimento industrial tão acelerado quanto o ABC (na Grande São Paulo) encontra sérias dificuldades para construir um novo paradigma ambiental.
O ponto vulnerável da região são as áreas de proteção ambiental, que passaram a ser ocupadas de forma predatória por núcleos de favelas, em decorrência de expansão urbana. Somente em São Bernardo do Campo, eles totalizam 115 núcleos.
Essas "cidades ilegais" acabaram se consolidando nas áreas de manancial, independentemente da recusa dos órgãos públicos de lhes proporcionar infra-estrutura, seja água, esgoto, luz ou transporte. O acesso a esses serviços é obtido de maneira informal, sem minorar o impacto ambiental causado na região.
Esse é um dos grandes desafios dos municípios do ABC, que têm buscado soluções integradas para problemas comuns.
É ponto consensual que o poder público deve proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento de forma sustentada das áreas irregularmente ocupadas.
O conceito de desenvolvimento sustentado é recente, data do final da década de 80, sendo ainda passível de muita discussão.
Busca um equilíbrio entre os dois termos que o formam, mudando a ótica comumente adotada pela maioria dos administradores públicos, que sempre privilegiou o desenvolvimento em detrimento da estabilidade, da proteção ambiental.
O desenvolvimento sustentável implica objetivos comuns, vistos de forma holística e solucionados por intermédio da parceria. Em decorrência disso, as grandes metrópoles não podem mais ignorar sua face ilegal, formada por uma população colocada à margem da co-responsabilidade ambiental e da cidadania.
A busca da conciliação entre a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentado é vital para todo o ABC.
A urbanização e o meio ambiente são faces da mesma moeda e devem ser avaliados de maneira integrada.
Por isso, precisam ser pensados de forma conciliatória.
Desse amálgama pode surgir um novo ator social urbano, tanto na cidade legal quanto na cidade ilegal -ambos conscientes dos problemas comuns e dispostos a uma atuação de forma diferenciada para a melhoria da qualidade de vida de toda a região.

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