São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Mulher anima festa para viver

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Maria Tereza era casada com um executivo de banco, que ganhava cerca de R$ 12 mil por mês. Após a morte do marido, no vôo 402, ela foi obrigada a mudar a sua vida.
Trocou São Paulo por Ribeirão Preto, passou a trabalhar, animando festinhas infantis, e hoje vive com menos de R$ 500 mensais.
Não é um caso único. "Há casos desesperadores. Vejo algumas viúvas que tenho vontade de pegar no colo", diz Sandra Assali.
Na verdade, não são apenas viúvas. A presidente da associação se emociona ao contar a história do casal de alemães cuja filha, analista de sistemas, morreu no acidente.
O casal já havia perdido o outro filho, num acidente automobilístico. O pai estava sob tratamento para conter um câncer de próstata, custeado pela filha que morreu no acidente da TAM. Hoje, eles vivem com uma pensão de R$ 600.
"Estar juntas"
As fundadoras da associação relacionam, entre os objetivos principais da entidade, um que não tem nada a ver com indenizações e coisas do gênero: "Queremos estar juntas", diz Sandra Assali.
A entidade planeja organizar eventos sociais, reunir as crianças, motivar as viúvas. "Até fazer coisas corriqueiras, como entregar a declaração de Imposto de Renda, é difícil", diz Heloisa Gouveia.
"Pagar a passagem deles de volta, ninguém vai pagar. É irremediável. Uma vez que nenhuma de nós conseguiu nada sozinha, resolvemos nos unir. Porque só nós falamos essa língua", diz Heloisa.
Bons exemplos
A associação pretende pressionar algumas empresas a ajudarem as viúvas do vôo 402 usando como exemplo aquelas que estão agindo de forma correta.
Sandra Assali cita o caso da multinacional alemã onde seu marido, José Rahal Abu Assali, trabalhava, a Boehringer de Angeli.
Ele tinha um seguro de vida adequado, equivalente a 72 salários, a empresa adiantou seis meses de salários três dias após o acidente, deu à viúva o carro que ele usava e ofereceu assistência em toda a burocracia do enterro.
"Se uma empresa pode fazer isso, todas deveriam poder. Queremos buscar tratamento igualitário", diz Sandra Assali.
O mesmo vale para as escolas. Muitas, como Pueri Domus, Mackenzie e Dante Alighieri, deram bolsas para filhos das vítimas. Outras, não.
(MSy)

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