São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997 |
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Dança ocupa agora o palco de "Babel"
ANA FRANCISCA PONZIO
O "Anti-Homem", que Marcelo Gabriel estreou anteontem, confirma o potencial e a disposição deste jovem coreógrafo mineiro em revelar abordagens inusitadas do movimento e do espaço cênico. Escapando a rótulos, Gabriel vem produzindo espetáculos híbridos, que fazem da dança, do teatro e da performance as vias de acesso para um evento cênico essencialmente experimental. Num processo de negação de padrões, Gabriel se vale de uma coleção de procedimentos para tentar mostrar o avesso de um espetáculo de dança, que em "O Anti-Homem" toma como referência-símbolo "O Lago dos Cisnes", o mais popular dos balés clássicos. Em uma atordoante sucessão de cenas, Gabriel dança com pernas e braços amarrados, num pas-de-deux ao lado de um rapaz de cuecas. Em outro momento, surge de olhos vendados, para voluntariamente perder a noção de limite espacial e se misturar à platéia. Ao som de uma gravação alterada da música de Tchaikovsky para "O Lago", se debate entre painéis que vão comprimindo seu corpo. Também não escapa a idolatria do público pelas estrelas do balé, rejeitadas quando Gabriel manda os espectadores voltarem para casa. Solista talentoso, Gabriel possui auto-suficiência para dominar a cena. As inquietações de seus espetáculos também assinalam um criador capaz de introduzir códigos próprios na dança contemporânea. No entanto, a proposta contestatória de Gabriel, que o aproxima do teatro da crueldade de Artaud, ainda precisa saltar da negação para a transformação, ou seja, uma linguagem que não confunda o coreógrafo com um garoto mal-comportado, mas que lhe conceda o status de artista pleno e realmente inovador. Texto Anterior: A beleza e o prato pronto Próximo Texto: A programação de hoje Índice |
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