São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Marcel Marceau 'aterrissa' seu Bip em SP

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1957, a terra ganhava seu primeiro satélite, o Sputnik, lançado pela Rússia, cujo transmissor de rádio deixava escapar um sonoro "bip bip" durante sua órbita ao redor do mundo.
"Dez anos antes, quando criei Bip, não imaginava que, como o satélite russo, meu personagem daria a volta ao mundo", diz Marcel Marceau, 74, o mímico francês que volta a se apresentar no Brasil neste mês, numa turnê que comemora os 50 anos de Bip.
Com seu chapéu enfeitado por uma flor, o rosto pintado de branco e a boca reduzida a um traço vermelho, Bip se imortalizou como o principal personagem criado pelo mímico Marceau, artista que já é uma legenda e que influenciou bastante as artes cênicas deste século.
Testemunha dos acontecimentos que transformaram a história contemporânea, como o início da era nuclear, Bip continua mantendo intacta sua capacidade de se comunicar com platéias de todas as gerações.
"Há jovens brasileiros que nunca viram Bip e que agora poderão conhecê-lo", afirma Marceau, que está retornando ao Brasil pela oitava vez.
Na primeira vez em que esteve no país, em 1951, viu um Rio de Janeiro que ainda era uma ode à natureza e que cultuava ídolos como Carmem Miranda.
Para quem nunca assistiu a um espetáculo de Marceau, a atual temporada assume caráter obrigatório.
Um clássico do teatro, Marceau pode não mais retornar ao Brasil em apresentações solo, uma vez que, de agora em diante, pretende se dedicar à direção de sua companhia, formada por 14 mímicos.
"No decorrer de minha carreira, houve uma pesquisa voltada para a perfeição de minha arte. Quanto a Bip, permanece o mesmo. Como Dom Quixote, ele luta contra os moinhos de vento da vida atual. Envolvido em seu silêncio, proporciona ao público a ilusão de tornar visível o invisível", diz Marceau.
Ao escolher o programa da temporada brasileira, Marceau não se preocupou em incluir apenas números inéditos.
"Na essência, é um espetáculo clássico, que celebra o nascimento e a criação de meu personagem solista."
Na primeira parte, denominada "Pantomimas de Estilo", Marceau interpreta pequenas fábulas -entre elas, o "O Pequeno Café", "O Tribunal", "O Burocrata", "O Passageiro", "Adolescência, Maturidade e Velhice" e "As Mãos".
Essa última, uma das mais populares, é uma metáfora sobre a luta entre o bem e o mal.
Eterno como o Carlitos de Charlie Chaplin, Bip dominará a segunda parte do espetáculo.
Herói de diferentes aventuras e histórias, protagonizará peças curtas como "Bip e a Agência Matrimonial", "Bip Vendedor de Porcelanas", "Bip Fabricante de Máscaras".
"Misturando o trágico e o cômico, Bip me permitiu conservar a alegria e a vitalidade. São vantagens também proporcionadas pelo trabalho corporal", comenta Marcel Marceau sobre a boa forma física e artística que continua exibindo.
Responsável pelo renascimento e a popularização da mímica numa época em que essa arte havia perdido a expressão, Marceau lançou Bip no Teatro de Bolso de Paris, em 22 de março de 1947, três anos após participar da Resistência Francesa.

Espetáculo: Marcel Marceau comemora os 50 anos de Bip
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698)
Quando: neste domingo (dia 15), às 16h e às 21h
Quanto: de R$ 10 a R$ 70

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