São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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'O que está faltando sou eu', diz Bebeto

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

José Roberto Gama de Oliveira, o Bebeto, 33, o terceiro maior artilheiro da história da seleção brasileira, com 50 gols, parece estar tranquilo e em paz em Salvador, sua terra natal, onde vem sendo tratado com reverência digna de um orixá pela torcida do Vitória, seu clube desde janeiro último.
Mas sua cabeça está mesmo em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, cidade onde o Brasil começa amanhã a disputar a Copa América.
O atacante foi convocado pela última vez para a seleção na Olimpíada de Atlanta, no ano passado, e foi o artilheiro do time na competição, com seis gols.
Chateado por estar sendo preterido por Zagallo, credita à imprensa parte da culpa pela situação.
Ídolo e craque maior do Vitória, Bebeto se diz feliz como está, mas parece já ter saldado a dívida sentimental de voltar um dia ao clube em que começou (saiu do juniores do Vitória, aos 17 anos, para o Flamengo) e fala com ânimo em voltar a jogar no Sul do país.
*
Folha - A seleção brasileira disputou o Torneio da França e vai disputar a Copa América com vários jogadores do time tetracampeão. Você é um dos poucos daquele grupo que ficou de fora. Como se sente?
José Roberto Gama de Oliveira - A gente fica triste. Com certeza, eu gostaria de estar lá, mas tem muita coisa para rolar até a Copa de 98.
Folha - Você acredita que pode ser convocado até o Mundial?
Bebeto - Acredito. Eu sou um cara que quando boto um objetivo na cabeça vou atrás dele e consigo. E o meu objetivo agora é voltar à seleção brasileira. Zagallo não é bobo, ele vai ver que eu tenho condições de voltar.
Folha - Em que medida o fato de você estar jogando em um clube fora do eixo Rio-São Paulo contribuiu para a sua exclusão?
Bebeto - Não acredito que atrapalhou muito, pelo menos no meu caso. O Zagallo já sabe do que eu sou capaz, conhece o meu potencial. Para outros jogadores daqui da região, é realmente difícil.
Folha - E por que, então, o Zagallo não lhe convocou?
Bebeto - É a pergunta que a gente se faz. Só o tempo dirá, mas vamos dar tempo ao tempo.
Folha - Pouco depois da Copa de 1994, você continuou sendo convocado, e Romário, não. De repente, você deixa de ser chamado, e ele volta como titular absoluto. Será que o "lobby" dele é mais forte do que o seu?
Bebeto - Não gosto nem de falar sobre isso, mas está na cara. Eu nunca tive apoio da imprensa. Não sei por que isso acontece, mas acontece. Talvez seja porque eles não gostam de caras que vivem para a família, que são exemplo para os jovens. Esses não dão notícia.
Folha - Você acha que a mídia abre muito espaço para os jogadores-problemas?
Bebeto - Acho, mas cada um vive da maneira que está mais feliz. Graças a Deus, minha mãe me deu uma educação exemplar. Sou um ídolo, tenho consciência disso, e tenho que dar exemplo. Foi uma das coisas que aprendi com o Zico.
Folha - Caso estivesse na seleção, preferiria jogar ao lado de Romário ou de Ronaldinho?
Bebeto - Foram dois jogadores com quem me entendi perfeitamente. Pela minha característica de movimentação, tanto faz.
Folha - O que você achou das últimas exibições da seleção?
Bebeto - Só vi o primeiro tempo do jogo contra a França. É difícil para quem está de fora falar.
Folha - Mas, pelo que viu, o que acha que está faltando ao time?
Bebeto - Se for para falar o que está faltando, vou dizer que está faltando eu (risos).
Folha - E a experiência de jogar no Vitória, depois de tantos anos longe da Bahia...
Bebeto - Estou vivendo isso com muita alegria. Vim porque o Vitória tem uma ótima estrutura. Até me surpreendi, porque quando saí daqui o clube não tinha nem camisa para treino. Está tudo bem, o problema é que o campeonato é violento, e os gramados, ruins.
Folha - Como tem sido a sua rotina em Salvador, quando não está jogando ou treinando?
Bebeto - Estou revendo grandes amigos sólidos, gente que me viu pequeno e acreditou em mim. Gosto muito de ir à casa de amigos para jogar botão.
Folha - O Vitória está próximo de conquistar o primeiro tricampeonato da sua história. Qual a sua contribuição para a boa campanha do time no Baiano-97?
Bebeto - Minha participação é fundamental. Você vê a garotada vibrando comigo. Eles falam: "É um orgulho estar aqui ao seu lado". Eles têm respeito por mim, e eu procuro passar tudo o que aprendi no futebol.
Folha - Quais as chances do Vitória no Campeonato Brasileiro?
Bebeto - Acho que temos muitas chances. Tecnicamente, o time é muito bom, nossos jogadores poderiam estar em qualquer time do país. Vamos disputar o título.
Folha - Seu passe pertence ao banco Excel, patrocinador do Vitória e do Corinthians. Qual a possibilidade de você se transferir para o clube paulista?
Bebeto - De concreto não tem nada, mas tudo é possível, eu sou jogador do banco.
Estou feliz aqui, mas quem não gostaria de jogar no Corinthians, com aquela torcida maravilhosa. É difícil falar, porque o pessoal aqui tem muito carinho por mim. Eu não posso magoar essas pessoas.

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