São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Masur traz a SP sua aversão pelo "ar livre"

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

A Orquestra Filarmônica de Nova York chega a São Paulo às 14h30 deste sábado. Seus 110 músicos desembarcam em vôo de carreira, acompanhados de uma equipe de apoio de 33 pessoas.
Aterrissa em seguida um cargueiro "charter" com 11 toneladas de equipamento -roupas, partituras, os instrumentos mais pesados (só 45 instrumentistas carregam os seus na bagagem), material promocional e medicamentos.
A orquestra estará sob a direção do maestro alemão Kurt Masur, 69 (completa 70 amanhã), ex-diretor da Gewandhaus, de Leipzig. Apresentam-se às 11h de domingo no parque Ibirapuera e segunda e terça no Teatro Municipal.
O conjunto sinfônico é um dos cinco grandes nos Estados Unidos, ao lado de outros como os de Chicago, Boston ou Cleveland.
Rivaliza em qualidade técnica com as excelentes orquestras européias, como as filarmônicas de Berlim ou Viena, da Nacional da França ou do Scala de Milão.
A apresentação de domingo ao ar livre no Ibirapuera é patrocinada pelo Citibank, que investiu US$ 1,5 milhão na passagem da filarmônica pelo Brasil. Os dois concertos do Municipal são promovidos, por sua vez, pela Sociedade de Cultura Artística.
A orquestra já se apresentou uma vez no Ibirapuera. Foi em 1987. Tinha como regente Zubin Mehta. O público, na época, foi estimado em 100 mil pessoas.
O equipamento de reprodução do som será desta vez bem mais complexo e moderno que o normalmente disponível para os concertos no local. Serão montadas dez torres com caixas acústicas.
Microfones e amplificadores fornecerão no mínimo alta fidelidade e, no máximo, a sensação de estereofonia, dependendo do lugar no gramado em que o ouvinte estiver posicionado.
Masur não é muito adepto de concertos em local aberto. Disse em Buenos Aires -a segunda etapa de sua turnê sul-americana (Santiago do Chile foi a primeira)- que prefere o clima de afinidade criado entre público e intérpretes numa sala de concertos.
As orquestras sinfônicas surgiram no início do século 19. Os microfones são invenção bem mais recente. Masur tem a reputação de perfeccionista. Gosta de testar, antes dos concertos, a acústica de cada teatro em que se apresenta.
Na última terça-feira, no Colón de Buenos Aires, foi esse o objetivo de ensaio de uma hora em que, com instruções precisas, adaptou o encorpamento dos naipes de instrumentos àquela sala de 3.600 lugares. São 2.000 lugares a mais que o Teatro Municipal de São Paulo.
Ele mantém com os músicos um relacionamento amistoso. Sorri ao fazer suas exigências. "Os padrões de relacionamento são outros", afirmou em entrevista.
Disse também que os brasileiros, pela proximidade cultural que têm com a música popular, podem eventualmente até "viver sem Mozart".
O mesmo não ocorre com os alemães, que a seu ver não convivem com nenhuma forma de educação musical. Sua segunda mulher é brasileira. Ele a conheceu no Rio de Janeiro há 22 anos.

O jornalista João Batista Natali viajou a Buenos Aires a convite do Citibank.

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