São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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MAU HUMOR COM O REAL

Pesquisa de opinião pública sobre as perspectivas da economia indica uma ligeira alta do pessimismo, reflexo dos problemas de consolidação do Plano Real e, provavelmente, também dos maus humores secretados no país por escândalos, massacres e protestos políticos e sociais.
Mas, antes de considerar a relação entre as adversidades econômicas e o clima de decepção verificado pelo levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), é preciso observar que a série histórica dessas pesquisas minimiza os seus mais recentes resultados.
O número de entrevistados que previa sucesso para o Real em maio passado caiu em relação a março deste ano e novembro de 96. No entanto, a taxa de otimismo no mês passado era maior do que a percebida em maio e agosto de 96. A taxa de pessimismo foi apenas um ponto percentual superior à observada há um ano.
É certo que, pela primeira vez nessa série de pesquisas, a tendência de conjunto é negativa, mas os dados não permitem concluir que houve uma forte virada na avaliação do plano. Esse humor declinante, porém, é de fato influenciado pela situação da economia. Depois da bolha de consumo proporcionada pela transferência de renda no início do Real, veio a ressaca. A euforia das compras diminuiu à medida que as contas, por vezes impagáveis, venciam.
Numa visada mais ampla, o plano estagnou e surgiram problemas devidos à dificuldade de aprofundamento do projeto de estabilização e a falhas na sua administração. Em parte engessada pelo câmbio e lidando com apuros provocados pela abertura comercial e pela crise fiscal, a economia cresce num ritmo medíocre e cria poucos empregos. Multiplica-se, assim, o número de pessoas que passa a notar no seu dia-a-dia os reflexos da apatia macroeconômica.
Ainda que nem de longe a pesquisa da CNI signifique uma derrocada da popularidade do Real -e muito menos do plano em si-, ela mostra que os sinais que vinham alertando os especialistas agora vêm sendo percebidos pelo conjunto da população.

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