São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Um grande museu para São Paulo

LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA

Falta a São Paulo um grande museu sobre a cultura nacional. Já temos um excelente museu de arte internacional -o Masp-, mas um grande museu de primeiro nível, que apresente de forma viva a cultura brasileira, está ainda por surgir.
Temos, isoladamente, dois excelentes museus nessa área -a Pinacoteca do Estado e o Museu de Arte Contemporânea da USP, o primeiro com uma excelente coleção do século 19, o segundo com um ótimo acervo de pintura e escultura do século 20.
Se os dois fossem fundidos, formando uma nova instituição pública não-estatal, dirigida por um conselho no qual estariam representantes do Estado, da USP e da sociedade civil, teríamos finalmente em São Paulo um grande museu. Um desses museus em que se entra de manhã, se almoça em seu restaurante e se sai à tarde, ainda "devendo", porque ficaram coisas boas para ver ou para ver melhor, um desses museus que se transformam em visita obrigatória para todas as pessoas que vêm visitar a cidade.
O novo museu não teria exclusivamente arte nacional, mas focalizaria sua atenção principalmente nessa área. Além do seu acervo, poderia contar com empréstimos dos museus nacionais, além de continuarem, naturalmente, as exposições especiais que principalmente a Pinacoteca vem realizando com tanto êxito.
Seu modelo poderia ser uma combinação de duas grandes exposições realizadas em São Paulo: "Tradição e Ruptura", pela Bienal, há cerca de uma década, e "O Brasil dos Viajantes", pelo Masp, há menos de dois anos. Mas não se confundiria com nenhuma delas. Seria uma exposição permanente de acervo, combinada com empréstimos estratégicos de obras clássicas da arte brasileira e com exposições especiais de todos os tipos.
O local ideal para o novo museu seria o da Pinacoteca, que poderia, no futuro, receber um anexo, nos moldes do que ocorreu com o Metropolitan Museum of Art.
A Pinacoteca recuperou recentemente o terceiro andar e sofreu uma bela reforma, concebida por Paulo Mendes da Rocha. Está na Luz, e existe todo um trabalho de recuperação do centro e da Luz, com a transformação da estação Júlio Prestes na sede da Orquestra do Estado de São Paulo e a transformação do prédio do antigo Dops em sede da Universidade Livre de Música. Nesse projeto, União, Estado e município estão somados na preservação do patrimônio histórico de São Paulo.
Mas não basta preservar o patrimônio cultural; é preciso torná-lo vivo, atrativo. Ora, um passo imenso seria dado nessa direção caso MAC e Pinacoteca decidissem somar esforços, associar-se e criar uma instituição nova, que usaria o prédio da Pinacoteca para centro de suas atividades; as instalações na USP seriam mantidas, mas assumindo um caráter complementar.
Venho falando sobre essa idéia há algum tempo. Todos a consideram muito interessante, mas inviável, na medida em que meus interlocutores partem de um pressuposto equivocado: o que estou propondo importaria a absorção do MAC pela Pinacoteca. Feito esse pressuposto, fruto de uma velha visão estatal da cultura, a conclusão é clara: a USP não aceitará a proposta.
Entretanto, se entendermos que a idéia é muito diferente, não há por que Estado e USP não se sentarem para conversar. Vai-se usar o prédio da Pinacoteca, mas não a instituição Pinacoteca do Estado. Esta e o Museu de Arte Contemporânea se fundirão, dando lugar a uma instituição estritamente nova, que receberá do Estado e da USP, em empréstimo, o acervo, além de ter para ela cedidos os funcionários, com todos os seus direitos preservados.
Nesses termos, o que o governo do Estado e a USP estarão fazendo será criar uma "organização social" -uma organização pública não-estatal- por intermédio da qual governo e universidade estarão se associando com a sociedade civil para criar um museu novo, integrado na vida da cidade e do país, cujos dirigentes contarão principalmente com o apoio de verbas estatais, mas serão autônomos e responsáveis pela direção da instituição.
Fica aí a idéia. Uma idéia que, espero, o secretário da Cultura do Estado, o reitor da USP e os dirigentes da Pinacoteca e do MAC se reúnam para discutir. E encontrar meios para transformar em realidade. Minhas funções atuais me impedem de uma participação mais direta no projeto, mas estou pessoalmente à disposição para continuar a debater e esclarecer a proposta.

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