São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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Inaugurado parque estadual de Canudos

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANUDOS (BA)

Um campo de batalha em Canudos, interior da Bahia, no qual morreram milhares de brasileiros tornou-se ontem um parque estadual. O parque relembra a epopéia de Antônio Conselheiro e seus seguidores, que se revoltaram no começo da década de 1890 contra as autoridades da nascente República. Foram massacrados depois de resistir a quatro expedições militares, a última das quais reunindo mais de 10 mil soldados enviados de todo o país.
O Parque Estadual de Canudos, distante 480 km de Salvador, foi criado "para tornar inesquecíveis os mártires liderados por Antônio Conselheiro", como consta da placa ontem descerrada por autoridades estaduais. O parque é administrado pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que pretende retomar as pesquisas de arqueologia histórica nos sítios contidos em seus 18 km².
"Nós vamos investir mais no parque. Temos propostas de pesquisa arqueológica e projetos sociais que pretendemos desenvolver", disse o reitor da Uneb, Antonio Raimundo dos Anjos.
A Canudos atual é a terceira cidade com esse nome. A primeira, de Conselheiro, foi destruída pelo Exército. Os habitantes reconstruíram a cidade sobre os escombros, mas essa segunda Canudos foi inundada pelas águas do açude Cocorobó, construído na década de 60 com um objetivo duplo -prover água para a região, mas também apagar a memória da rebelião. "A gente nunca engoliu isso. É querer apagar a história."
Para tentar resgatá-la, o novo parque tem placas indicando os pontos de maior interesse, além de um mapa e de uma mesa azulejada com um panorama desenhado, que salienta os principais pontos estratégicos em torno da submersa Canudos.
Dois pontos importantes do parque ainda esperam melhor proteção -as ruínas da Fazenda Velha, para onde foi levado o mortalmente ferido coronel Moreira César, líder da terceira e fracassada expedição contra o arraial de Conselheiro; e o local chamado Vale da Morte, onde estão enterrados dezenas de soldados do Exército.
As covas do Vale da Morte são rasas, e a erosão descobre os ossos. Ontem, o arqueólogo Paulo Zannettini pôde, em minutos, localizar um crânio quase à superfície.
Segundo Luiz Paulo Almeida Neiva, coordenador do Centro de Estudos Euclides da Cunha, da Uneb, nas próximas semanas deverão ser criadas proteções em torno dos sítios arqueológicos.
O turismo deverá aumentar em outubro, quando se comemora o centenário da queda de Canudos, e quando a estrada que chega à cidade terminar de ser asfaltada. Os primeiros visitantes do parque foram os que compareceram à inauguração. Já deixaram várias latas de cerveja e copos de plástico pelo chão. Neiva recolheu algumas.
Pesquisadores da Uneb já temem o risco para os sítios, com a chegada de turistas catadores de souvenires, dos quais o chão do parque é repleto -como antigas balas de fuzil e estilhaços de granadas e pedaços de cerâmica.

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