São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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Solto, brasileiro adota visual 'Ronaldinho'

ALEXANDRE GIMENEZ; ARNALDO RIBEIRO; RODRIGO BERTOLOTTO
DOS ENVIADOS A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

O estudante brasileiro Mauro Salas de Moraes, 21, está fazendo de tudo para não ser reconhecido: evita festas da torcida, os jogos no estádio e até raspou o cabelo.
"Ronaldinho, você voltou", gritou um vizinho boliviano ao ver Mauro chegar à república de alunos estrangeiros de medicina em Santa Cruz de la Sierra.
Mauro ficou preso quase um mês, acusado de ter agredido um garoto boliviano. As imagens da agressão foram exibidas pela televisão e gerou protestos.
Na última quarta-feira, ele foi solto, em liberdade condicional, mas ainda responde a uma ação por lesões leves.
Mauro não poderá deixar a Bolívia enquanto o processo estiver em andamento, o que significa, no mínimo, a permanência nos próximos quatro meses. A família de Mauro é de Corumbá, cidade brasileira na fronteira com a Bolívia.
Ontem, ele teve uma audiência. Na saída, ouviram-se gritos de "brasileiro safado". "As pessoas me ameaçaram, apontando o dedo." Segundo ele, esse foi o único momento tenso desde sua soltura.
"As pessoas ficam olhando na rua como se estivessem me acusando. Mesmo cortando o cabelo quase careca, eles me reconhecem." Ele vai acompanhar a Copa América pela televisão.
Diz que vai comemorar com uma cerveja, mas "discretamente". Mauro afirma que deve se mudar para Cochabamba ou La Paz e tentar entrar em uma faculdade de medicina na nova cidade.
"Não quero mais falar com meus amigos. Eles vão querer me recriminar", disse.
Falsa normalidade
O cônsul-geral do Brasil em Santa Cruz, Sérgio Luiz Bezerra Cavalcante, disse ontem à Folha que não existe mais clima hostil contra os brasileiros na cidade.
"Considero o assunto encerrado. Houve uma onda de violência organizada contra os brasileiros, mas isso já passou", disse.
Porém a Folha apurou que a realidade é outra. Estudantes e turistas brasileiros continuam a ser ameaçados por bolivianos.
"Falaram que iriam pisar na minha cabeça", disse um turista brasileiro, de Rondônia, que não quis se identificar.
(AG, AR e RB)

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