São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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Forçando a barra

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Nos bons tempos de faculdade, quando a maior preocupação era garantir fundos para as viagens de fim-de-semana, uma das diversões preferidas de um grupo de amigos era disputar emocionantes partidas de Imagem & Ação.
Não sei se ainda existe, mas o jogo consistia numa brincadeira de mímica, indefectível em festas chatas ou dias chuvosos, em que se representava com gestos o nome de um filme para que o grupo adivinhasse.
O jogo, no entanto, trocava os gestos pelos rabiscos, era necessário se exprimir de forma gráfica, desenhando no papel. Por motivos ignorados, o jogo virou mania, obsessão da turma.
Conto tudo isso só para falar que cada vitória era comemorada de forma, à época, bastante original. Os vencedores, invariavelmente, cantarolavam a musiquinha que significava vitória. Claro, o tema do Senna.
Era algo espontâneo, até meio ridículo para quem estava de fora, mas que partia de pessoas que, com raras exceções, no máximo sabiam que o carro vermelho e branco era o de Senna.
Naquele tempo, F-1 era senso comum, pelo simples fato de existir Senna. Nesta semana, após a escalada de Kuerten, o tênis ocupou tal espaço.
Na esquina, aprendemos que o segredo é o jogo de fundo de quadra, o slice em boa hora, assim como já havíamos aprendido que o carro saía de frente e que era possível percorrer Interlagos só com sexta marcha.
Senna se foi, mas ficou o tema. Dizem que até criaram uma versão para Barrichello, em algum momento de euforia.
Senna se foi, mas, lembrem, ficou o tema. E basta alguém, tão espontâneo quanto Kuerten, brilhar, para que se tente resgatar toda essa baboseira.
Queira ou não, temos alguma sorte em gerar talentos. Infelizmente, desde 1994, os mesmos precisam ser referendados com o já imbecilizado tema musical.
Que significava alguma coisa, mas virou exploração.

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