São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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Cordéis Fantásticos

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto está pronto, já recebeu várias adesões e é ambicioso: transformar dez histórias de cordel num longa-metragem com dez diretores e dez elencos diferentes -que podem incluir o norte-americano Tim Robbins-, um orçamento de R$ 4 milhões e a intenção de virar série de televisão em dez episódios.
"Cordéis Fantásticos" é uma reunião de histórias nordestinas, algumas tradicionais, outras baseadas em fatos reais e uma de ficção. A última é o carro-chefe do projeto. Mistura a viagem do cineasta Orson Welles ("Cidadão Kane") ao Ceará, em 1942, para filmar "It's All True" (É Tudo Verdade), a uma figura histórica local, o bode Ioiô.
A empreitada atraiu nomes importantes do cinema e da televisão nacionais. Já foram confirmados para a direção Ugo Giorgetti, Roberto Talma, Zelito Vianna, Bia Lessa, Marcos Moura, Wolney Oliveira e Sandra Kraucher.
O italiano Vittorio Storaro, que trabalhou com Francis Ford Coppola e Bernardo Bertolucci, também aceitou participar, fazendo a fotografia de um dos episódios.
Por trás do projeto está Guga de Oliveira, irmão do vice-presidente de Coordenação Estratégica da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. Ele divide a produção com Sandra Kraucher.
"Tudo começou com uma idéia minha, de fazer algo no pólo cinematográfico do Ceará. Optamos pelo cordel porque é algo tradicional e, ao mesmo tempo, jogo rápido. Cada história terá cerca de dez minutos, e a realização vai tomar cerca de dez dias de cada envolvido", disse Oliveira à Folha.
Somado a isso, de acordo com o produtor, o projeto se adapta perfeitamente ao formato "A Vida Como Ela É", quadro baseado em crônicas de Nelson Rodrigues da TV Globo. "Existem negociações com a televisão. Só vai depender da qualidade final do trabalho", disse.
No elenco, além da quase certa participação de José Wilker, há contatos com os atores Tim Robbins -que interpretaria Orson Welles-, Willen Dafoe e John Malkovich. A realização já tem data de início definida: outubro de 97. E todas as filmagens, que serão em 35 mm, ocorrerão no Ceará.
Segundo Sandra Kraucher, que dirigirá um cordel e é co-produtora do projeto, a unidade entre as histórias se fará a partir da adoção de uma só direção de arte.
O último elemento na receita é a inclusão de "cantadores", que farão a transição entre os episódios. Pensa-se nos nomes de Fagner, Alceu Valença e Ednardo.
Os dez roteiros já estão prontos. Cinco saíram das mãos do publicitário Fernando Costa e outros cinco são do cronista Ricardo Soares. A maioria é baseada no trabalho de Abraão Batista, cordelista da cidade de Juazeiro (CE).
"A maior parte dos roteiros vem de histórias reais. 'A Moça que se Rifou para Ir para São Paulo' é um caso desses. A garota queria se mudar, não tinha dinheiro e resolveu vender uma rifa. Quem ganhasse passaria uma noite com ela. No fim, o ganhador não havia pago a rifa e ela foi embora", conta Costa.
"Everybody, Everywelles" é o único que surgiu como ficção. Costa fez o roteiro e, a partir daí, Batista compôs o cordel "A História do Bode Ioiô e o seu Encontro e Amizade com Orson Welles" (leia trecho ao lado).
"A história do bode é verdadeira. Ele chegou à cidade na seca do 15 (uma das piores da história do Ceará, em 1915) com uma família de retirantes. Passou a perambular pela cidade como gente. Quando morreu, foi empalhado e até hoje está no Museu do Ceará. Mas nunca encontrou Orson Welles."

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