São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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'Videoteca' trará 'Rei George', que une a história à atualidade

DA REDAÇÃO

O filme britânico "As Loucuras do Rei George" -quinto lançamento da "Videoteca Folha", que circula com o jornal do próximo domingo- marcou a estréia no cinema de Nicholas Hytner, que na época já era consagrado por seu trabalho na Broadway.
Hytner transpôs para o cinema a peça de Alan Bennett (com adaptação do próprio Bennett) sobre a loucura que acometeu o rei George 3º, da Inglaterra.
Na verdade, o principal personagem do filme é a história do Império Britânico, mostrada ali a partir de um ponto de vista privilegiado.
No fim do século 18, George 3º foi acossado por uma série de problemas. O seu poder era contestado pelo Parlamento, e os EUA haviam conquistado a independência.
Mas George ainda conservava, em sua velhice, a velha autoridade. Não consentia sequer que o olhassem nos olhos.
Quando enlouquece pela primeira vez, em 1788, o problema mais grave que se coloca é: como mandar naquele que manda? Como fornecer limites a quem, por definição, não conhece limites?
Hytner e Bennett transformaram esse drama histórico numa comédia, dando-lhe um tom leve, o que ajudou no sucesso do filme e na ponderável lista de prêmios que conquistou.
"As Loucuras do Rei George" ganhou o Oscar-94 de melhor direção de arte e cenografia e o prêmio de melhor atriz (Helen Mirren) no Festival de Cinema de Cannnes de 1995.
Também foi indicado ao Oscar nas categorias ator principal (Nigel Hawthorne), roteiro adaptado e atriz coadjuvante (Helen Mirren, novamente).
Grande parte do sucesso de "As Loucuras do Rei George" deve-se à sua capacidade de articular o episódio histórico protagonizado por George 3º à atualidade.
Todo o processo de "cura" de George 3º tem como chave um pastor que decide tratar o rei como um ser humano qualquer.
Nesse sentido, o filme consegue nos remeter aos recentes escândalos da casa de Windsor, sobretudo os que envolveram o divórcio do príncipe Charles.
É verdade que a monarquia britânica hoje não é a mesma. Charles, por exemplo, sofre todos os constrangimentos inerentes ao poder (como ter a sua vida pessoal devassada), sem usufruir dele.
No entanto, o que o filme coloca é a da crise de identidade da monarquia britânica. Charles, hoje, é um símbolo: encarna a monarquia. Mas a monarquia, hoje em dia, encarna o quê?
É essa questão que, suscitada com agudeza, dá ao filme de Nicholas Hytner interesse universal.

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