São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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'Trem da morte' leva torcida e pente fino

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

Para os brasileiros, é o "trem da morte", mas, para os bolivianos, a estrada de ferro que liga a fronteira de seu país com o Brasil até Santa Cruz de la Sierra é o "trem do amor".
"A travessia demora tanto que você conhece uma garota, a namora, casa com ela, cansa e chega já divorciado", brinca o supervisor de trens Carmelo Zavala.
Os descarrilamento constantes e os trilhos velhos são os responsáveis pelas longas horas de viagem que obriga os passageiros a uma longa convivência, que pode chegar a até 48 horas.
O trem é a opção mais barata para o torcedor brasileiro que chega a Santa Cruz para assistir aos jogos da seleção na Copa América.
Mas o preço barato tem seus inconvenientes. Na última terça-feira, um trem de carga tombou, e o trem de passageiros que estava atrás, cheio de torcedores brasileiros, atrasou 24 horas.
A causa de tantos descarrilamento são a tecnologia antiga e as chuvas abundantes da região. Com isso, os trilhos cedem, e os trens de carga viram suas composições.
Sobre os escorregadios batentes do "trem da morte", passa o comércio entre os dois países. São importados soja, trigo e petróleo pelo Brasil, enquanto a Bolívia recebe minerais e tecidos do outro lado da fronteira.
"A chuva amacia os trilhos. Aí, não tem jeito. Mas ninguém morreu por um descarrilamento nesta linha. O nome 'trem da morte' é porque a viagem é muito cansativa", explica Zavala.
Controle uniformizado
A Secretaria de Migração da Bolívia decidiu reforçar o controle de fronteira durante a Copa América.
A maior preocupação é a fronteira brasileira, mais movimentada.
"Muitos aproveitam que estão chegando os torcedores para entrar no país para contrabandear", afirma Rolando Chávez, diretor da Secretaria de Imigrações.
Segundo ele, depois de uma reunião com diplomatas brasileiros, foi decidida a adoção de um uniforme que está sendo utilizado pelos agentes de fronteira.
O uniforme boliviano é uma cópia da jaqueta preta da Polícia Federal brasileira.
Os agentes de Migração também estão atuando nos dias de jogo perto do estádio e à noite.
O grande medo das autoridades bolivianas e da representação diplomática brasileira em Santa Cruz é o clima de tensão criado entre parte da população da cidade e os estudantes brasileiros que estudam medicina ali.
Há quase um mês, o universitário Mauro Salas de Moraes agrediu um engraxate boliviano, o que gerou sua prisão e uma série de protestos.
Ele foi preso, mas agora está livre esperando julgamento.

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