São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Fórmula 1 discute suas noções de perigo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quais são os limites do perigo? Complicando a pergunta, quais são os limites do perigo na F-1? Até que ponto o risco tem o respaldo da disputa, do esporte?
Jacques Villeneuve deu sua resposta no último mês de abril, pouco antes do terceiro aniversário do fatídico GP de San Marino de 1994, que vitimou Roland Ratzenberger e Ayrton Senna.
Para ele, que é a grande atração de hoje no GP do Canadá, os limites simplesmente não existem. A função do piloto é basicamente não ter medo, correr riscos, sobreviver e, se tiver um carro decente, triunfar. O resto não importa.
Baseado em tal opinião, que surpreendeu boa parte dos colegas, Villeneuve iniciou uma campanha pessoal contra as duas modificações mais polêmicas previstas no regulamento do próximo ano.
E colidiu de frente com a FIA. Na última quarta-feira, dois dias antes dos primeiros treinos em Montreal, foi obrigado a se retratar diante dos membros do Conselho Mundial da entidade, que rege o automobilismo no planeta.
O canadense teria utilizado palavras "ofensivas" para defender seu ponto de vista, absolutamente contra a redução de 20 centímetros no comprimento dos carros e a adoção dos pneus lisos com estrias (veja quadro abaixo).
As medidas, classificadas de ridículas pelo piloto, foram tomadas em nome da segurança e das ultrapassagens, segundo Max Mosley, advogado inglês que preside a FIA.
O dirigente abandonou seu escritório de Paris, no último GP de Mônaco, para defender a eficácia das medidas. Em geral, só faz isso quando as coisas estão pretas.
E, depois de ouvir Villeneuve buzinar por mais de um mês, resolveu colocar um ponto final na gritaria. Tarde demais. Um dia antes do depoimento do canadense em Paris, entrevista com Michael Schumacher era publicada na Alemanha, com o bicampeão engrossando a fila dos descontentes.
Apesar de criticar Villeneuve por não participar da GPDA (associação dos pilotos), Schumacher atacou a severidade das mudanças.
Ensaio com um Williams adaptado às novas regras, em Silverstone, registrou marcas oito segundos inferiores às atuais.
Um handicap necessário para Mosley, num momento em que a categoria vive a chamada guerra de pneus -responsável por uma notável redução nos tempos, em quase todas as pistas.
Mesmo diante do campeonato mais disputado dos últimos tempos, Mosley se mostra irredutível. Da mesma forma que se comportou quando da eliminação da eletrônica "ativa", no final de 93.
E sua estratégia, até o momento, vem sendo desqualificar a figura de Villeneuve, se aproveitando do fato de que o canadense é o odiado da vez -por ser o favorito.
Villeneuve pode até estar fazendo força para aparecer. Mas é o primeiro piloto da era pós-Senna a abrir mão da tal bandeira da segurança, em nome do que considera ser a verdadeira competição.
Atitude que, pela primeira vez em sua breve carreira, remete à idolatrada personalidade de seu pai, Gilles, que morreu "da melhor maneira possível" correndo na Bélgica em 1982.
(JHM)

NA TV - Globo, ao vivo, às 14h

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