São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997 |
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3. DJUNA PARA ELIOT Nova York 8 de maio de 1948 Querido Tom: Que confusão eu causei! Eu me sentiria bem pior não fosse pelo fato de, por conta dessa história toda, ter recebido duas cartas encantadoras, a sua e (a de John Hayward), além de um telegrama gentil e demasiado embaraçado. Adoro vocês dois! Na manhã em que chegou o telegrama a coisa foi assim: alguém bate à porta (oito da manhã, eu deveria ter acordado às seis, como de hábito). "O que é?" "Telegrama, senhora." "Ponha embaixo da porta." "Ah, não, a senhora seria muito privada." "Seria o quê?" (apoiando-me sobre um cotovelo). "Não perca tempo, senão a senhora será privada da leitura de um dos telegramas mais gentis que já entreguei -muito gentil e amável e, além disso, lá do estrangeiro." Eu me levanto, abro a porta, agarro o envelope já achando que vem de você e, levantando a vista até mais ou menos um metro acima do chão, vejo um homenzinho curvado e de avental com um ar absolutamente beatífico. "É um prazer, senhora", diz ele, delicadamente recolhendo a gorjeta às sombras. "Não me lembro de ter entregado um melhor, em lugar nenhum" -ele move o braço na direção do horizonte e logo se vai. Bem, é verdade que fiquei por uns meses no escuro, mas tudo está perfeito agora e obrigado, Tom, por ter sido tão gentil quando soube do que havia acontecido. Então, até outubro, e cuide-se como melhor puder. Espero que sua dentadura já aprecie a sua companhia. Pelo que me conta o sr. Hayward, você está escrevendo uma outra peça. Pego a "Time" e leio o seguinte: "O poeta e dramaturgo T.S. Eliot, que atualmente trabalha numa nova peça, explicou tudo a respeito a um repórter que lhe perguntou sobre o que versava: 'Bem, nesta peça eu estudo as relações de certos personagens com outros personagens e de certos personagens consigo mesmos"'. Texto Anterior: 2. ELIOT PARA DJUNA Próximo Texto: 4. DJUNA PARA ELIOT Índice |
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