São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Orquestra evita fórmula fácil

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O programa que a Orquestra Filarmônica de Nova York vai apresentar no parque Ibirapuera não é típico de recitais de música erudita ao ar livre para grande multidões num país de Terceiro Mundo.
É possível que o maestro Kurt Masur tenha decidido não parecer condescendente em sinal de respeito aos músicos brasileiros, com quem trabalhou na década de 70 como regente convidado da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Foi nessa época, por sinal, que ele conheceu sua atual mulher, a japonesa Tomoko Sakurai, que tocava viola na OSB. Masur, 70, sempre se refere aos artistas brasileiros com grande simpatia e admiração.
Ele evitou, por exemplo, ao selecionar o programa para o Ibirapuera, a fórmula fácil de apresentar apenas movimentos mais conhecidos de peças sinfônicas. Mas também não se arriscou a apresentar qualquer trabalho longo. Optou por fantasia, suíte e poema. Curtos. Mas, pelo menos, inteiros.
Ousadia
A grande ousadia foi a seleção de "Impressioni Brasiliane", do italiano Ottorino Respighi (1879-1936), um autor que não é dos mais conhecidos do público médio nem dos mais admirados entre os conhecedores de música.
O melhor da obra de Respighi são as recriações que fez de temas medievais e o poema sinfônico "Fontane di Roma", muito influenciado por Ravel e Strauss.
"Impressões do Brasil" é uma suíte em três movimentos, inspirada por uma longa viagem que ele fez ao Brasil em 1927 e que teve estréia mundial no Rio em 1928. A parte mais conhecida e elogiada, pelo que representa em termos de inovação estética, é o segundo movimento, chamado Butantan, em que o autor que tenta representar, com as madeiras da orquestra, os movimentos sinuosos das serpentes que tanto o impressionaram.
O tom sombrio de Butantan é substituído no movimento final, chamado "Canção e Dança", por um tom otimista que são as lembranças de Respighi do Carnaval e de uma casa de samba que ele visitara. A suíte é aberta com uma atmosfera "noturna" inspirada por temas folclóricos brasileiros.
As outras duas peças são bem mais famosas e fáceis. "Romeu e Julieta", de Tchaikowsky (1840-1893), não chega a ser o "Quebra Nozes" ou "1812" em termos de popularidade, mas tem, como quase tudo dele, elementos que agradam a qualquer gosto.

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