São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Plástica muda crianças com Down

El País
de Madri

DO "EL PAÍS"

Um programa de televisão provocou uma polêmica no Reino Unido sobre uma nova moda: operar crianças vítimas da síndrome de Down para suavizar os traços de seus rostos. Embora nem todos os cirurgiões se disponham a fazer a operação, eles não vêem nada de errado nela. Na Espanha, algumas cirurgias desse tipo vêm sendo feitas há seis anos, inclusive em hospitais públicos.
Na tentativa de camuflar os traços típicos da síndrome, os cirurgiões reduzem o tamanho da língua e suprimem os bolsões de pele em volta dos olhos. A cirurgia não alivia os problemas motores e de aprendizagem, mas os pais acreditam que eles sofrerão menos brincadeiras cruéis na escola se seu aspecto físico for quase normal.
Nem todos os cirurgiões se dispõem a operar crianças muito novas, de até três anos. E alguns grupos, como a Associação Britânica de Apoio às Vítimas da Síndrome de Down, se opõem ao novo modismo. "Operar um rosto pode ser necessário, mas tentar apagar os traços faciais da síndrome é um erro", diz Carol Boys, diretora da associação. Como os outros membros da entidade, Boys teme que a pressão social aumente, fazendo com que os pacientes -e seus familiares- se sintam na obrigação de se submeter a cirurgia. "Adequar sua aparência à do restante da população considerada esteticamente normal não é o caminho. Devemos aceitá-los como são."
Alguns pais não concordam. Entrevistada pela emissora britânica ITV, no último dia 5, Kim Gallagher disse que as pessoas percebem a mudança sentida por Georgia, 3, sua filha. "Para mim, ela é uma menina normal, e as outras pessoas o percebem", contou, enquanto a menina sorria com as feições "suavizadas".
Segundo Norman Waterhouse, o cirurgião que fez a operação de Georgia, a transformação é sutil. "Se pudermos diluir os traços da síndrome de Down e melhorar sua vida social, já terá valido a pena. Crianças normais às vezes também são operadas", explicou.
Muitas famílias acreditam que encurtar a língua das crianças pode ajudá-las a falar melhor, embora isso ainda não tenha sido comprovado cientificamente.
A Associação Espanhola da Síndrome de Down se mostra mais cautelosa e afirma que, na maioria dos casos, os resultados são pequenos e não se justificam. "É preciso aceitar as pessoas como são e não tentar escondê-las ou modificá-las", diz o presidente da associação, Francisco Astudillo.

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