São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Videorrepórteres acrescentam agilidade e intimidade à televisão

CRISTIANA COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

As imagens exclusivas do confronto entre a PM e os sem-teto na periferia de São Paulo, há 26 dias, exibidas pela TV Cultura, tiraram do anonimato mais do que o trabalho de um jornalista: revelaram a figura do videorrepórter.
Com a câmera em uma mão e o microfone na outra, o jornalista Aldo Quiroga, 23, faz entrevistas, grava imagens enquanto narra o fato e praticamente edita sua reportagem na câmera, pouco antes de levá-la ao ar no telejornal "60 Minutos". E, ao contrário dos repórteres tradicionais, não aparece no vídeo.
"Não deu para pensar, tinha um cara baleado na minha frente", lembra Quiroga, que ficou na linha de fogo do conflito por duas horas e teve imagens veiculadas nas principais emissoras do país, além da internacional CNN.
Para Marco Nascimento, gerente de jornalismo da TV Cultura, o videorrepórter é um jornalista treinado para ser também um bom cinegrafista. "A opção é dar um tratamento mais intimista e autoral à reportagem".
Entre as vantagens do esquema "de um homem só", Quiroga aponta a agilidade, a liberdade de ação e a unidade na reportagem.
O uso do videorrepórter foi a solução criativa que algumas emissoras encontraram para reduzir custos e agilizar o processo, aproveitando os avanços da tecnologia, com equipamentos cada vez mais leves e com mais recursos.
Além de Quiroga, há nove meses na função, outros novatos ressuscitam o papel desempenhado há 10 anos pelos "abelhas" da TV Gazeta - primeiros videojornalistas do país (leia texto abaixo).
Marcelo Novaes, 25, companheiro de Quiroga, acha o esquema um "desafio". "No começo, não sabia se lia o texto ou confiava na minha narrativa", diz Novaes, que cobriu a interdição na ponte dos Remédios, na zona norte da cidade. "Agora sei que somos aqueles que contam uma história em tempo real."
Sem precisar da agilidade necessária em um telejornal diário, Renato Lima, 35, e Renata Rodrigues, 27, se preocupam com detalhes nas imagens gravadas para o "MTV na Estrada", da MTV.
Ao acompanhar as turnês das bandas, Lima e Rodrigues funcionam como repórteres e câmeras de apoio, gravando cenas mais intimistas dos shows ou planos inusitados dos músicos durante as entrevistas.
"Estou sempre com duas câmeras à mão para pegar detalhes que o meu cinegrafista não vê", explica Lima, que carrega o tempo todo as câmeras portáteis Hi-8 e Super 8 (com qualidade de imagem de cinema).
Foi assim que Lima registrou as imagens dos Mamonas Assassinas, mortos em 95 num acidente de avião, pouco antes do embarque da banda para uma turnê pelo sul do país.
Intimidade
O videorrepórter é como uma "mosca na parede", que vê tudo sem quase ser notada. "É menos constrangedor para o entrevistado", diz Rodrigues, que acompanhou a banda Deep Purple e procurou momentos especiais de intimidade do grupo.
"Quando gravei Chico César em Catolé do Rocha (PB), rolou forró e fiz cenas que com a equipe perderiam a espontaneidade", completa Lima.
Mas nem tudo é diversão e ação no mundo do videorrepórter.
Quando o imperativo é qualidade, a equipe convencional de TV ainda supera o "olho do repórter". "Precisamos de qualidade apurada nas imagens e no áudio", diz Jorge do Espírito Santo, editor-chefe do núcleo de especiais da MTV, que acha o videorrepórter ideal para situações de investigação jornalística.
Sem função regulamentada por lei, o videojornalista causa polêmica. "Ele exerce duas funções, o que é uma exploração. Além disso, aumenta o desemprego de radialistas", critica Nilton de Martins, 37, do Sindicato dos Radialistas de São Paulo.
Marco Nascimento rebate: "Quanto melhor a qualidade dos equipamentos, maiores são as possibilidades para mais pessoas produzirem informação".

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