São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Maluf busca aproximação com FHC para isolar Covas

FERNANDO RODRIGUES; LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O objetivo principal de Paulo Maluf ao se aproximar do presidente Fernando Henrique Cardoso foi isolar politicamente o governador Mário Covas (SP).
Maluf (PPB) encontrou-se com FHC anteontem. Jantaram juntos no Palácio da Alvorada. O ex-prefeito paulistano não quis comentar o encontro.
O isolamento que Maluf planeja para Covas, que é do PSDB, se resume a dois pontos:
1) inviabilizar aliança de Covas com o PFL. Sozinho, o PSDB já perdeu a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 1996. Maluf forçou o rompimento do PFL com Covas. Deu a vaga de vice para um deputado do PFL e conseguiu fazer o seu sucessor;
2) credenciar-se como defensor do Real. Se continuasse "brigado" com FHC, Maluf daria a Covas o monopólio de político paulista de peso que defende o Plano Real.
O maior desejo de Maluf hoje, quando deve ser votada a quebra da estabilidade dos funcionários públicos, é fazer com que a bancada do PPB vote em peso a favor do governo. O ex-prefeito concluiu que não pode se alinhar com os partidos de oposição, que votam sistematicamente contra as reformas de FHC.
Por isso, Maluf passou o dia de ontem telefonando para deputados do PPB. Prometeu a FHC reverter cerca de 30 votos pepebistas contrários ou indecisos.
"Se não tiver nenhum constrangimento de sua parte, vote no governo e ajude o Luís Eduardo (PFL-BA)", pediu o ex-prefeito para o deputado Wigberto Tartuce (PPB-DF).
Ao pedir ajuda para o líder do governo na Câmara, Maluf quer agradar também ao pai do deputado, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), um dos principais caciques pefelistas.
A articulação do jantar
Por causa desses pedidos de Maluf, surgiu um boato na Câmara sobre a participação de ACM na aproximação entre o ex-prefeito e FHC. Mas ACM nega: "Não houve nada".
Na realidade, o encontro de FHC com Maluf estava marcado desde fevereiro. Teve de ser adiado porque o ex-prefeito ficou em situação delicada em meio a acusações vindas da CPI dos Precatórios.
Os principais artífices do jantar foram o presidente do PPB, senador Esperidião Amin (SC), e o ministro de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos.
Na quinta-feira passada, Santos participou de um jantar em Barueri (SP), junto com Maluf. No jantar, ficou claro para Luiz Carlos Santos que Maluf desejava colocar o PPB a serviço do governo na votação das reformas.
Santos levou o recado para o presidente e o jantar de anteontem foi marcado no Alvorada.
Maluf tem dado sinais de que pode ser candidato ao governo de São Paulo em 98. O certo, porém, é dizer que o ex-prefeito será candidato a alguma coisa.
Seu maior sonho, a Presidência, é uma possibilidade remota. Maluf avalia que FHC dificilmente perderá a reeleição.
Isso só aconteceria, segundo Maluf, se houvesse alguma catástrofe econômica. O que, além de ser improvável, seria um cenário favorável mais às esquerdas -e nunca ao próprio Maluf.
O único cenário que Maluf enxerga como propício para sua candidatura a presidente seria a perda total de credibilidade de FHC por causa de escândalos de corrupção dentro do governo.
Mas essa hipótese é intangível. Por isso, o ex-prefeito tenta reforçar sua posição em São Paulo.
No jantar de anteontem, segundo interlocutores do governo e de Maluf, é improvável que FHC e o ex-prefeito tenham entrado em detalhes sobre alianças para as eleições do ano que vem.
Segundo a Folha apurou, Maluf teria pedido pelo menos uma certa neutralidade do governo federal na disputa estadual.
"Não tem nada disso. Essas conversas são quase espíritas. Eles ficam se chamando de 'Paulo' e de "Fernando'. Só isso. Não dá ainda para ficar prevendo como serão as alianças", disse o deputado Delfim Netto (PPB-SP), que conversou com Maluf depois do jantar.

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