São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Relator aponta omissão de governadores

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo convite aos governadores Orleir Cameli (sem partido-AC) e Amazonino Mendes (PFL-AM) para prestar depoimento na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) sobre o escândalo da compra de votos a favor da reeleição provocou um desentendimento entre o deputado Nelson Otoch (PSDB-CE) e o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE).
Relator do processo de cassação dos deputados acusados de ter vendido o voto a favor da reeleição, Otoch mandou ontem ofícios aos dois governadores, criticando a "omissão" e marcando a nova data dos depoimentos: dia 25, na próxima semana.
Os governadores do Acre e do Amazonas prestariam depoimento ontem, mas não compareceram.
A CCJ está analisando o processo de cassação dos mandatos dos deputados Chicão Brígido (PMDB-AC) -licenciado-, Osmir Lima (PFL-AC) e Zila Bezerra (PFL-AC). Os parlamentares são acusados de vender seus votos para aprovar a emenda que permite a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
'Omissão'
No ofício, o relator diz que o não-comparecimento dos governadores "efetivamente afetará o rendimento da investigação".
Em seguida, afirma: "É importante notar que a omissão de altas autoridades, como vossa excelência, no esclarecimento dos fatos, poderia motivar esta relatoria a indicar ou sugerir mecanismos de averiguação outros que possam ocasionar dificuldades, o que certamente poderia ser evitado".
Amazonino ligou para Inocêncio, líder do PFL na Câmara, reclamando do teor do ofício. O líder estava no plenário e cobrou explicações de Otoch.
"Eu não aceito que um governador do PFL seja desrespeitado. O relator faz ameaças ao governador e isso eu não vou permitir", afirmou Inocêncio, quando retornava à Câmara, no início da tarde.
"O Amazonino vai responder no mesmo tom", completou o líder pefelista.
O relator disse à Folha que não recebeu qualquer cobrança diretamente do líder do PFL. Segundo Otoch, o vice-líder do PSDB, Marconi Perillo (GO), foi quem lhe disse que Inocêncio estava reclamando do teor do ofício.
"Eu estava na Mesa e vi que o líder do PFL estava muito alvoroçado", afirmou Otoch. O deputado disse que deixou a Mesa e foi conversar com o deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), novo líder do governo na Câmara.
"Mostrei o ofício ao Luís Eduardo e ele não achou tão duro", afirmou Otoch.
Viagem aos Estados
"Depois fui conversar com o Inocêncio e ele me disse que achava muito forte a palavra omissão. Eu respondi que estava cumprindo o meu papel", completou.
Segundo Otoch, Inocêncio propôs que um grupo de deputados da CCJ fosse aos Estados para ouvir os governadores. "Eu não concordei", afirmou.
Logo que leu os ofícios na CCJ, Otoch disse à Folha que não achava "que os governadores possam alegar fórum privilegiado, pois o ministro (Sérgio Motta, das Comunicações) também tem esse direito e ficou aqui quatro horas". O ministro prestou depoimento na última terça-feira.
Além do desentendimento, os ofícios provocaram telefonemas dos governadores ao presidente da CCJ, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que está tentando convecê-los a prestar depoimento.

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