São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Anistia Internacional receberá relatório

SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A sede da Anistia Internacional, em Londres, receberá, possivelmente na próxima semana, um relatório detalhado sobre a absolvição de Nélson Oliveira dos Santos Cunha.
O relatório começou a ser preparado ontem à tarde pela ONG (organização não-governamental) Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, com sede no Rio de Janeiro.
Coordenadora da ONG, a advogada Cristina Leonardo atuou no julgamento como assistente de acusação, representando os menores que sobreviveram ao ataque do grupo de extermínio.
"Essa absolvição representa um disparate jurídico, uma aberração. O júri demonstrou ser muito conservador. As crianças foram vítimas duas vezes: dos exterminadores e do júri. Prevaleceu a cultura do extermínio", afirmou ela.
No relatório, Cristina Leonardo deverá se queixar até da atuação do Ministério Público, que, ao formular as acusações, não considerou os reconhecimentos feitos por sobreviventes, entre eles Wagner dos Santos, considerada a principal testemunha da matança.
Os promotores que trabalharam no caso desde o início, José Piñeiro Filho e Maurício Assayag, foram substituídos há cerca de um mês pela promotora Glória Percinoto.
Piñeiro Filho disse que os reconhecimentos feitos por Santos apresentavam equívocos. O sobrevivente reconheceu Marcelo Ferreira Cortes, absolvido no ano passado, e Carlos Jorge Liaffa, que não foi processado.
Para Piñeiro Filho, o resultado do julgamento foi surpreendente.
"Não esperava essa decisão. O réu havia sido condenado por 6 a 1. A absolvição contraria as provas dos autos. Hoje, como cidadão e diante da decisão dos jurados, me sinto até envergonhado", afirmou Piñeiro Filho.
Promovido à função de procurador do Ministério Público, Piñeiro Filho lamentou a absolvição.
"Parece que a sociedade está aceitando soluções que se aproximam do extermínio para resolver o problema dos menores de rua".
Derrotada em sua estréia no caso, a promotora Glória Percinoto também reclamou da decisão.
"Se ele (Cunha) não quisesse cometer os crimes, não estaria nos locais onde os meninos foram mortos, acompanhado dos outros assassinos", afirmou a promotora.
O julgamento foi acompanhado pela novelista Glória Perez (mãe da atriz Daniella Perez, assassinada em 1992), pela artista plástica Ivonne Bezerra de Mello (protetora dos meninos de rua) e por representantes de ONGs e entidades de defesa dos direitos humanos.

A coluna de Barbara Gancia não é publicada excepcionalmente hoje.

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