São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Por um fórum para o tratamento do futebol

FÁBIO MATIAS POLLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A iniciativa da Folha em produzir a série "País do Futebol", encerrada em 1º de junho, merece elogios pela sensibilidade e visão jornalística.
A série tirou uma radiografia do futebol brasileiro, e a revelação do filme mostrou o esqueleto da estrutura social do país.
A radiografia dos salários dos atletas revela que 50% dos profissionais recebem um salário mínimo por mês e que a soma dos nove maiores salários ultrapassa R$ 1 milhão - demonstrando o tamanho da desigualdade de renda.
Segundo o Banco Mundial, de 71 países pesquisados, o Brasil é o único em que os 10% da população mais rica detêm 50% da renda nacional.
Os clubes devem milhões de reais ao Estado, em forma de impostos e contribuições sonegadas, devido, em grande parte, a uma legislação e fiscalização tributária falhas.
Enquanto isso, permanece em banho-maria no Congresso Nacional a reforma fiscal, indicando que Executivo e Legislativo não têm intenção de discutir o assunto, uma vez que revelaria de forma contundente quem são os privilegiados e quem efetivamente financia o setor público.
No campo jurídico, ficou constatado que as normas orgânicas que regem o futebol não são cumpridas, em alguns casos, nem por quem a produziu, além de ferirem leis ordinárias e a Constituição.
A produção de leis inconstitucionais, o desrespeito a outras e a morosidade e a elitização da justiça no país se constituem em entraves para conquista da cidadania.
A corrupção, troca de favores e a politicagem também saíram na radiografia do futebol, demonstrando à sociedade a maneira que são eleitos grande parte de seus representantes e explicando por que se contabilizam escândalos na vida política nacional.
No Brasil, o futebol é uma atividade econômica pobre, revela a radiografia, devido à má gerência -esta que, também, impede o desenvolvimento econômico do país.
Matinas Suzuki Jr., do Conselho Editorial da Folha, no encerramento da série, afirmou que o futebol precisa de ampla reformulação, e corroboramos com isso.
A radiografia tirada pela Folha merece ser analisada pelos radiologistas do futebol, que, reunidos em um amplo seminário, emitiriam um laudo que serviria de base para o diagnóstico e tratamento do nosso paciente, já quase moribundo.
Na ampla reforma que por certo virá, dependendo de nós impormos o ritmo, buscaremos o caminho para tornar o futebol uma atividade economicamente viável, sem esquecer sua função social.
Entendemos que o futebol e seus profissionais, possuem os requisitos para tornarem-se um instrumento de reforma social, uma vez que o futebol é a instituição mais comum ao povo brasileiro, possui uma linguagem universal e possui uma cobertura da mídia só comparada à dispensada às questões político-econômicas.
Deixamos o incentivo à Folha, que tomou a iniciativa de produzir a série, para reunir os seguimentos do futebol e promover o fórum, que servirá de alavanca para a reforma.

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