São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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O melhor do dia

EDUARDO OHATA

Quão hipócrita pode ser a imprensa? Pode parecer incrível, mas os mesmos jornalistas que até poucos meses idolatravam Mike Tyson agora atacam -pelo menos no papel- o ex-campeão mundial dos pesos-pesados com ferocidade similar àquela com que o lutador investe contra seus oponentes.
Nos últimos meses, após a derrota para Evander Holyfield, vários especialistas chegaram ao absurdo de afirmar que Tyson não pertence à lista dos dez melhores pesos-pesados de todos os tempos.
Quando Tyson surpreendentemente perdeu para James "Buster" Douglas, em Tóquio, em 1990, foi a mesma coisa.
As insistentes especulações sobre como "Iron" Mike poderia vir a ser o maior peso-pesado de todos os tempos cessaram.
Especialistas que apostavam que o campeão, então invicto em 37 combates, quebraria o legendário recorde de Rocky Marciano (que se aposentou com um cartel de 49 lutas, todas vitórias) se calaram.
O problema é que a imprensa, desde o início, nutriu expectativas exageradas em torno da figura do polêmico lutador.
O longo jejum de campeões carismáticos -o último deles havia sido Muhammad Ali, que deixou o boxe no início da década de 1980- também contribuiu para o "endeusamento" precoce de Tyson.
Mas pode alguém realmente esquecer os méritos do pugilista que conseguiu unificar o título dos pesados, após este permanecer fragmentado por quase uma década? Pode-se negar as qualidades daquele que dominou a categoria máxima de peso por anos, revivendo o interesse do público? Aparentemente, alguns acreditam que sim.
Essa, aliás, deve ser a maior motivação para Tyson e "The Real Deal" Holyfield na preparação para a grande revanche: saber que, como dizem no mundo do boxe, "você é tão bom quanto o indicado por sua última apresentação."

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