São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Ministro da Fazenda calcula que rombo pode ser financiado com capital estrangeiro em até três anos

Real sobrevive ao déficit externo, diz Malan

MAURICIO ESPOSITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O atual desequilíbrio nas contas externas brasileiras pode ser financiado por dois ou três anos sem riscos ao programa de estabilização, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
A razão, segundo o ministro, é a maneira como o déficit vem sendo financiado, isto é, por investimentos estrangeiros diretos e por emissão de títulos com prazo de resgate e juros favoráveis.
Malan esteve ontem em São Paulo onde participou, como palestrante, de seminário para empresários e executivos sobre os rumos do Plano Real.
Para o ministro, o fato de o país ter registrado déficit equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em maio não permite uma análise mecanicista. "Neste ano os investimentos estrangeiros diretos devem chegar a US$ 9,4 bilhões", disse. Isso equivale a 42,5% do déficit em conta corrente.
A única possibilidade de risco, segundo Malan, seria uma "catástrofe" internacional, como um repentino e significativo aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, a exemplo do ocorrido no final da década de 70. "Não há previsão para isso se repita."
Esse otimismo, entretanto, não foi plenamente compartilhado por outro palestrante do mesmo seminário, o ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris.
Eris disse que a situação das contas externas é preocupante, principalmente porque as exportações não terão crescimento significativo. "Não ultrapassam os US$ 52 bilhões no ano", afirmou.
Segundo ele, não há como prever até quando os capitais estrangeiros irão continuar chegando ao país.
"Não há economista que possa dizer qual será o saldo da conta corrente em 1997 e se vai ser financiável", declarou.
Ibrahim Eris classifica como uma "aposta perigosa" a expectativa de financiar o déficit em conta corrente nos próximos dois anos.
Para ele, o déficit comercial neste ano deve chegar a US$ 14 bilhões.
O ex-presidente do Banco Central também defendeu mudanças na política cambial. A proposta de Eris é deixar o câmbio flutuar livremente. "É preciso buscar uma política cambial que tenha credibilidade e durabilidade", disse.
Inflação prevista
Malan voltou a dizer, durante sua palestra, que a inflação neste ano será de aproximadamente 7%, sendo que a de 1998 poderá ser ainda menor.
Para o secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, que também participou do seminário, há uma forte convergência entre preços sujeitos à competição externa e as não expostos à concorrência. "É um sinal da consolidação da inflação baixa."

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