São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Locutor guarda 'enciclopédia' na cabeça

DA REPORTAGEM LOCAL

Além da superação de seu problema físico, Paulo Rodrigues, 57, deficiente visual, tem outro motivo para orgulhar-se: é conhecido como "computador humano" no Ceará.
Qual a defesa mais vazada? A maior renda da temporada? Rodrigues, locutor e comentarista da rádio Verdes Mares, guarda essas e outras informações -sobre os campeonatos Cearense, Paulista, Estadual do Rio, Espanhol, Italiano e Português -na memória.
Fórmula do sucesso
Para manter frescas as informações esportivas, Rodrigues segue uma disciplina quase militar.
"Gravo as informações relevantes sobre os campeonatos em fitas cassete", ensina o locutor. "Todas as manhãs, ouço uma ou mais fitas para não esquecer nenhum dado".
Amor antigo
Desde os tempos de estudante, no Colégio Cearense, Rodrigues já gostava de futebol. " Infelizmente, desde pequeno sofria de miopia degenerativa (a doença acabou por privar-lhe da visão)", lamenta Rodrigues, que encontrou outro meio de manter-se ligado ao esporte. "Foi aí que comecei a organizar campeonatos de futebol no colégio".
A experiência deu certo e, mais tarde, Rodrigues tornou-se dirigente e treinador de clubes infantis e juvenis de futebol (veja texto abaixo).
"Mas, aos poucos, fui perdendo o interesse pelo esporte", diz o radialista. "Até que, devido aos progressivos problemas de visão, abandonei o futebol de vez."
Loteria esportiva
Ironicamente, foi justamente a perda da visão e o consequente isolamento de Rodrigues que o reaproximaram de uma de suas maiores paixões.
"Na idade adulta, é mais difícil a adaptação a esse tipo de situação", diz Rodrigues, referindo-se à cegueira. "Passava os dias acompanhando os jogos pelo rádio, minha única diversão."
Em uma tarde de 1984, Rodrigues detectou uma informação errada quando a radialista anunciava os resultados da loteria esportiva e ligou para a rádio. Na semana seguinte, Rodrigues apontou outro erro. Na terceira semana, assim que terminou de fazer a correção, Paulo teve uma surpresa.
"O senhor entende mesmo de futebol, não?", disse um dos locutores. "Por que não vem até aqui para fazer um teste?"
"Fiquei um pouco intimidado, mas aceitei o convite", diz Rodrigues, que já trabalhou em quatro emissoras e hoje participa de quatro programas esportivos.
"Vivo ótimos momentos nessa profissão", diz, orgulhoso, o locutor. "Mas o melhor mesmo é saber que você está sendo útil."

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