São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Documenta começa com jeito brasileiro

CELSO FIORAVANTE
ENVIADO ESPECIAL A KASSEL

A cidade alemã de Kassel, na Alemanha, inaugura hoje para o público a 10ª edição da Documenta, a mais importante mostra de arte contemporânea do mundo.
Se o evento fosse uma Copa do Mundo, já nesse primeiro dia, depois de dois dias de exibição para profissionais da área e convidados, ele já teria um sério candidato à taça: o Brasil.
Isso já era claro na entrevista coletiva que a curadora Catherine David concedeu anteontem, quando citou quatro vezes os nomes dos artistas brasileiros selecionados para o evento.
Na última delas, chegou a mencionar Hélio Oiticica, Lygia Clark, Tunga e Cabelo como exemplo de pensamento e reflexão sobre a arte contemporânea, justificando, assim, sua escassa seleção latino-americana.
Chegou ainda a dizer que Oiticica era responsável pela inversão entre conceitos de centro e de periferia por meio da emergência de uma estética marginal.
A consagração de Hélio Oiticica não ficou apenas nas palavras de Catherine David.
Em um espaço privilegiado da Kulturbahnhof, antiga estação central de trem da cidade, era visível o interesse e a empatia dos visitantes.
Muitos tentavam se aproximar mais que o permitido, mas eram coibidos pelos seguranças, que, também perturbados pelo impacto estético de Oiticica, sequer sabiam onde colocar as etiquetas dos trabalhos.
A ausência da possibilidade de manuseio da obra de Oiticica confirmou uma preocupação pertinente de Luciano Figueiredo, estudioso da obra do artista, em relação ao paradoxismo de se "prender" Hélio Oiticica dentro de um espaço museológico. E como já disse Cabelo, "parangolé é uma atitute, que você toma quando está a fim".
A poucos metros dali, anteontem, Tunga realizou a primeira sessão de sua "instauração" "Inside Out Upside Down", que se passa ao som de dois alto-falantes.
Em um deles, Tunga deu uma alfinetada, talvez involuntária, na bienal de Veneza, ao colocar como trilha Charles Aznavour cantando "que c'est triste Venice; que c'est trop triste Venice"...
Germano Celant, o curador do evento italiano, talvez não tenha percebido, pois chegou para visitar o pavilhão alguns minutos depois de a performance ter se encerrado.
A Documenta de Kassel fica em cartaz até o próximo dia 28 de setembro. Depois, só em 2002, já que a mostra acontece a cada cinco anos.

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