São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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DEPOIMENTOS

Antônio Houaiss, filólogo, 80 - "Ao longo de uma vida já longa como a minha, muitos morreram, mas felizmente a capacidade de criar novas amizades perdura, de maneira que ninguém vai ficar isolado no mundo por perder os primitivos amigos. Se ele for complacente com a vida, se ele amar a vida, ele vai encontrar amigos."

Darcy Ribeiro, antropólogo (1923-1997) - "As religiões são consolações experimentadas pelos homens, que nascem pelados, conseguem pôr uma roupinha e passam a viver sempre com essa burrice de serem mortos e matarem os outros. Como a vida é um risco, precisam de consolação."

Dercy Gonçalves, atriz, 89 - "Tenho 88 anos, estou entrando nos 89. E tenho um raciocínio, uma inteligência de 30 anos, não tenho nada da velhice. É claro que existe uma dorzinha. Quebrei a bacia e não fiz fisioterapia, então sinto esse pesinho, mas isso muita gente jovem pode ter."

Dona Neuma, agente comunitária, 74 - "Sou relações-públicas da Mangueira, coisa que toma muito tempo. (...) Aqui em cima, sou mais conhecida do que o Gugu Liberato. Quando inventaram o Gugu, eu já existia há muito tempo."

Paulo Freire, educador (1921-1997) - "Vivo uma experiência que, de modo geral, os chamados 'intelectuais' têm ou passam: a de viver uma impossível dicotomia entre mente e corpo. A mente continua viva, curiosa, inquieta, arriscando-se. O corpo não a acompanha. Costumo dizer que não é fácil viver essa sensação de ter uma mente jovem num corpo de 75 anos, o corpo não consegue seguir o ritmo."

Ivan Ribeiro, médico, 78 - "A despeito de tudo, digo sim à vida, às vezes mal-humorado. Lembro-me de um conto russo em que uma jornalista pergunta a um operário de mina o que ele faz na vida. Ele responde, simplesmente: 'Eu amo Olga, minha mulher'. É o que penso da vida."

Ivo Pitanguy, cirurgião plástico, 70 - "A aparência física hoje está um pouco supervalorizada. Nós estamos nos dedicando exageradamente ao físico."

José Mindlin, empresário, 81 - "Eu digo, brincando, que gostaria de viver 300 anos porque isso me permitiria ler uns 25, 30 mil livros... mas eu não achei a receita... Por outro lado, cheguei à conclusão de que não adiantaria muito, porque nesses 300 anos apareceriam muitos livros mais, e então eu passaria a achar que precisaria de mais 300... Portanto, desisti da idéia."

Rachel de Queiroz, escritora, 86 - "Considero a morte a grande amiga, o ponto final. É a hora do aplauso: 'A hora final chegou!' Sim, repito, é a grande amiga, o grande repouso."

Tomie Ohtake, artista plástica, 82 - "Eu já sou velha, mas sou mulher! Faço ginástica para manter a forma. Eu me cuido. Faço massagens, tomo vitaminas e me alimento com produtos naturais. Faço questão de cuidar da minha aparência."

Fonte: "Encontros de Vida"

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