São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997 |
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Negritude Jr. é mais rock que Titãs
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Sinceridade e despretensão marcaram o que de melhor já existiu no rock. E essas duas qualidades existem de sobra no trabalho de grupos como Art Popular, ExaltaSamba, Katinguelê e Negritude Jr. Claro, os que acompanham samba torcem o nariz para o chamado pagode mauricinho. Criticam o excesso de teclados, a diluição da cultura negra, as letras às vezes simplórias. Pode até ser verdade, mas diante de toda pompa e pretensão, de toda a artificialidade de algo como o CD acústico dos Titãs, é mil vezes preferível escutar que um namoro "não era amor, era cilada". Assim como Claudinho e Buchecha, os pagodeiros que hoje dominam as paradas têm mostrado um admirável ego no lugar. Em geral continuam morando nas quebradas de onde vieram, mantêm-se fiéis aos velhos manos e não saem por aí dando declaração pseudoantropológicas, nem fazendo pose de "o-fardo-da-miséria-humana-pesa-sobre-meus-ombros". Vendo de fora, a impressão que se tem sobre um grupo com o Negritude Jr. é a de que eles fazem o som em que se ligam de verdade. Deram uma envernizada aqui, uma burilada ali, mas, no geral, samba é mesmo a deles. Já analisando a trajetória dos Titãs (chato falar deles de novo, mas esse disco "unplugged" é de uma ruindade abismal, fica difícil fugir), vemos uma banda sempre tentando ser o que não é. Criados à base de musiquinha contemplativa caetânica, já se meteram a new wave, grunge, cabeça, punk e só agora, finalmente, abraçam claramente a MPB pretensiosa que os moldou. * E já que falamos em integridade, nada como lembrar de uma figura que dá aulas nessa área: Joe Strummer, vocal e guitarra da melhor banda de todos em tempos, o Clash. Desde o final do grupo, Strummer optou pela contramão da indústria pop. Fez papéis em filmes alternativos e compôs algumas trilhas sonoras para o cinema independente inglês. Em entrevista à revista norte-americana "GQ" de junho, Strummer rejeita furiosamente uma volta do Clash nos moldes da reunião dos Sex Pistols no ano passado. E fuzila: "Fico preocupado. Acho que, de uma volta dessas, não sairia nada, a não ser a repetição de canções. Sabe, se você não é criativo, está morto". Strummer mora com a família perto de Londres. Vive de direitos autorais e ocasionalmente produz artistas jovens. Texto Anterior: Se intercâmbio fosse bom, gringo também faria Próximo Texto: "Evergreen", Echo and the Bunnymen; "Black Session", Frank Black; "Contrasenso", Paulinho Moska Índice |
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