São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Cultura de raiz não é a mesma de antes'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para ressuscitar o CPC, os estudantes da Umes foram procurar informação de quem conhecera o movimento de dentro -e hoje, quem dá as diretrizes do CPC é um ex-membro de sua versão original, o cineasta Denoy de Oliveira, 63.
Considerando-se ainda hoje um comunista ("mas sem partido"), ele explica sua postura no processo de reconstrução do CPC.
"Eu me irrito com escola de samba que coloca halloween (o dia das bruxas norte-americano) no enredo. Adoro rock, mas não estou preocupado, ele já tem todas as TVs do mundo para veiculá-lo. Trabalhamos com produção cultural brasileira, temos que assumir que há a preferência por um caminho nosso."
Seu objetivo não é modesto. "O trabalho que está sendo feito pode criar uma geração de criadores culturais com muito mais qualidade. Nesse momento essa produção é menos personalista, mas pode vir a se espalhar", diz.
Novos e antigos
Até agora, o selo CPC tem deixado a segundo plano tal nova geração. A exceção de disco da estreante Kátia Teixeira (escolhida pelos próprios estudantes, segundo a diretora de cultura da Umes, Rebeca Braia, 18), são gerações anteriores que têm predominado no elenco da gravadora.
Nele, inserem-se artistas egressos dos anos 60, como Adauto Santos -e Sérgio Ricardo, que deve gravar em 98-, além de Luiz Carlos Bahia (um dos diretores do selo e coordenador do projeto "Cantarena", de shows semanais promovidos na sede da Umes) e do dono do selo, Marcus Vinicius. Ambos lançam CDs neste ano.
"Os estudantes me motivaram. Eles construíram um teatro num lugar onde só se destrói", afirma Marcus Vinicius.
Ele dá sua versão da razão de existir do selo: "Estamos abertos a tudo. Ninguém quer resgatar a estética dos 60, mas a questão nacional/popular continua valendo. Quero que o selo CPC seja uma alternativa a artistas da MPB".
O presidente da Umes, Luciano Cordeiro, dá sua versão das intenções da iniciativa. "Procuramos Denoy não para fazer igual de novo, mas para consertar os erros de antes. A idéia de cultura de raiz ainda vale. É sua nacionalidade, o que você é de verdade."
Ele rejeita a idéia de que o processo de globalização que flecha os 90 transforme parâmetros.
"Não há globalização da cultura, há a destruição das culturas nacionais por uma outra cultura mais forte. Mas claro que a música de raiz daquela época era diferente da música de raiz de hoje. Gosto de rock, Legião, Pink Floyd."

Texto Anterior: Não podemos atacar hipopótamos com rosas
Próximo Texto: UNE e Umes trocam farpas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.