São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Principal crítico do fumo ataca acordo do cigarro

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O principal crítico do fumo nos EUA, David Kessler, atacou ontem o acordo firmado entre 40 Estados e as indústrias de cigarro do país.
Na opinião do ex-responsável da FDA (órgão do governo federal que fiscaliza alimentos e drogas), o acordo é "um passo atrás" na luta contra o fumo e pode se tornar ainda pior depois de ser emendado pelo Congresso.
"O documento foi bem trabalhado pelos advogados das empresas", disse. "Nas letras miúdas, torna quase impossível para o governo controlar a nicotina." Everett Koop, "surgeon general" (principal autoridade médica dos EUA) entre 1981 e 89, também criticou os termos do acordo, que prevê a formação pelas empresas de um fundo de US$ 368,5 bilhões nos próximos 25 anos para pagar despesas médicas provocadas pelo cigarro em troca da virtual eliminação de processos por perdas contra as indústrias.
Analistas econômicos acham que a lucratividade dos produtores de fumo nos EUA não vai diminuir de maneira dramática em 1997 e 1998 e retomarão os índices atuais, em torno de 15%, a partir de 1999.
Em contrapartida ao desembolso para o fundo, as empresas vão gastar muito menos com advogados e com publicidade. Um aumento no preço dos produtos também compensará despesas extras.
A indústria do fumo gerou em 1996 US$ 44,7 bilhões nos EUA e pagou US$ 20,6 bilhões em impostos. As duas maiores empresas, Philip Morris (47,6% do mercado) e RJR Nabisco (25,6%), faturam muito no exterior, onde operações vão se intensificar com a redução prevista do consumo nos EUA.
Em 1996, os produtores de cigarro gastaram US$ 450 milhões em publicidade. Apesar das restrições impostas pelo acordo, a publicidade de fumo não vai acabar. Entre as alternativas já sob estudo: mais uso de mala direta, aproveitamento de empresas particulares (como postos de gasolina) para colocação de anúncios, trabalho de relações públicas e mais investimentos no exterior, em especial em cidades preferidas por turistas dos EUA.
No ano passado, marcas de cigarros investiram US$ 195 milhões em eventos esportivos. Com o acordo, essa despesa será inteiramente eliminada. Mas dirigentes de esportes acham que encontrarão substitutos para os cigarros com facilidade. A indústria do fumo representou 20% dos patrocínios esportivos em 1996.

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