São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Assassinato mata mais que trânsito em SP

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

As mortes causadas por assassinato passaram a ser a principal causa de mortes violentas na cidade de São Paulo nos últimos 15 anos. Até então, o trânsito matava mais que tiros e facadas.
Segundo levantamento feito pelo pronto-socorro do Hospital das Clínicas junto ao PRO-Aim (programa da Prefeitura de SP que levanta dados sobre mortalidade) e ao Ministério da Saúde, até julho de 96, as mortes por homicídio representavam 56% do total de mortes violentas em São Paulo. Em 1981, elas eram 25% do total.
Enquanto isso, as mortes no trânsito caíram de 37% para 19% do total.
Em São Paulo ocorrem por ano, em média, 9.500 mortes violentas. No Brasil, essa média fica entre 100 mil e 105 mil mortes. Em 1981 ocorreram 70 mil.
As causas de morte violenta, chamada pelos médicos de morte por trauma, são tiros, facadas, fraturas, queimaduras, afogamentos, soterramentos e quedas.
Esses dados estão sendo apresentados e discutidos num congresso sobre o atendimento ao paciente traumatizado no Brasil, que termina amanhã em São Paulo.
Segundo o professor da USP e chefe do pronto-socorro do HC, Dario Birolini, a melhora na prevenção de acidentes de trânsito e o agravamento da violência na cidade são as principais explicações para essa inversão de papéis.
Tanto em São Paulo como no Brasil, a maior parte dessas mortes ocorre antes dos 40 anos. "O trauma é a principal causa de morte no país, se considerarmos os anos de vida perdidos nessas mortes".
Para Birolini, os principais problemas no atendimento a traumatizados (pessoas que sofreram lesões graves) estão na formação deficiente dos médicos que atendem no setor de emergência, a maior parte deles residentes ou novatos.
"Se o paciente não morre, um mau atendimento pode causar sequelas graves". Segundo Birolini, para cada morte violenta pode-se contar três "sequelados definitivos". Sequela definitiva é, em geral, deficiência mental ou física permanente.
O resgate de pacientes acidentados, implementado há cerca de 15 anos no Brasil, também fez com que mais pessoas chegassem ao setor de emergência dos hospitais.
"Pacientes que antes morriam na rua agora chegam aos hospitais, exigindo dos médicos mais preparo para esses casos", afirma Renato Poggeti, diretor do serviço de cirurgia de emergência do HC.
As soluções possíveis para isso, segundo Birolini, seriam incrementar a formação dos estudantes de medicina -incluindo o atendimento de emergência nos currículos das faculdades e na residência-, e dar cursos de atualização para médicos (veja ao lado).

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