São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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FHC, a ONU e a realidade

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - FHC está feliz com o seu desempenho na Organização das Nações Unidas (ONU).
"Saímos da defensiva e partimos para a ofensiva", disse o presidente a um interlocutor durante a semana.
FHC se referia ao fato de países desenvolvidos estarem, em certa medida, piores do que o Brasil em alguns aspectos da defesa do meio ambiente.
Por exemplo, um quarto dos gases que poluem a atmosfera é gerado nos EUA. Ali estão os problemas principais do planeta.
Por ter falado o que todos já sabem, FHC achou que se deu bem.
A mídia comportada noticiou fartamente a viagem de FHC aos Estados Unidos. A idéia geral é que o presidente teria abafado no vizinho do norte.
É triste dizer, mas isso é inverídico.
Ninguém dá a menor pelota para a ONU nos Estados Unidos. Ou em outros países desenvolvidos. Os discursos de FHC não tiveram a mínima repercussão na mídia que importa.
O sucesso do presidente brasileiro foi, na realidade, uma vitória de marketing interno. Nada mais.
Quem já frequentou a ONU sabe que o imponente prédio em Nova York é o maior cabide de empregos da Terra. Serve de abrigo para um monte de gente desfilar de sarongue e turbante sem fazer nada (atenção politicamente corretos: nada contra sarongues ou turbantes). Ali, os barnabés brasileiros seriam café pequeno.
Os discursos de presidentes estrangeiros na ONU têm a importância que teriam em qualquer outro lugar. Se for um chefe de Estado relevante, o discurso até tem alguma repercussão. Já para um terceiro-mundista, tanto faz falar na ONU ou em um palanque numa cidade satélite de Brasília.
Mal comparando, a ONU está para o mundo como o Parlatino está para a América Latina. Ninguém dá a menor bola para o Parlatino -que pouquíssimos brasileiros devem saber onde fica (aliás, fica em São Paulo).
Ainda assim, FHC acha que sua viagem a Nova York foi um sucesso de diplomacia. É isso aí. Cada um enxerga o mundo como bem entende.

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