São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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Meta para mortalidade é inatingível

DANIELA FALCÃO

DANIELA FALCÃO; MAURICIO STYCER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MAURICIO STYCER
A meta do governo de reduzir o índice de mortalidade infantil no país para 23 mortos para cada 1.000 nascidos vivos até 1999 dificilmente será atingida.
A redução da mortalidade é o principal programa da área de saúde do Brasil em Ação.
Técnicos do programa avaliam informalmente que "nem com varinha de condão" será possível atingir a meta estabelecida.
Em 90, o índice de mortalidade era de 47,2 mortos em cada 1.000 nascidos vivos. No ano passado, a estimativa era de que o índice tivesse caído para 37,5 mortes.
Embora a redução seja significativa (20,5% em seis anos), as projeções mais otimistas indicam que, no ano 2000, a mortalidade infantil chegará a 31 mortos por 1.000 -ainda bastante distante da meta.
O PRMI (Programa de Redução da Mortalidade na Infância) está sendo reestruturado pelo Ministério da Saúde e ainda não há uma posição oficial sobre a viabilidade de atingir a meta estabelecida.
Não há nem consenso sobre o número de municípios prioritários. A homepage do ministério, na Internet, informa que o PRMI "será ampliado para 1.356 municípios do Comunidade Solidária". Já a pasta do Planejamento, em sua homepage, diz que o PRMI atinge "1.676 municípios prioritários".
"Se você me perguntar hoje se vai ser possível chegar a 23 mortes em 99, não poderei responder. Por enquanto, qualquer avaliação seria precipitada, não dá para prever o ritmo da queda", diz Sandra Mendes, secretária-adjunta de Projetos Especiais do ministério.
Nordeste
Para o demógrafo Celso Simões, do IBGE, o centro do problema da mortalidade infantil está no Nordeste (veja quadro). Segundo suas projeções, nas condições de hoje, a meta de 23 mortos não será atingida na região antes de 2015.
Os avanços obtidos no combate à mortalidade infantil desde 94 podem ser atribuídos sobretudo à ação dos agentes comunitários de saúde no interior do Nordeste.
Nas cidades da região atendidas pelos agentes, o índice caiu em média 37,7% desde 94. Em alguns Estados, a queda superou 40% -caso de Bahia (52,2%), Paraíba (40,6%) e Pernambuco (45,9%).
Nesses Estados havia municípios em que o índice chegava a 207 mortos em 1.000 nascidos vivos.
"O impacto inicial do trabalho dos agentes fez milagres, mas a partir de agora será mais trabalhoso manter a queda. Quanto mais o índice se aproxima da média nacional, mais lenta é a queda", diz Ana Goretti Maranhão, coordenadora do Serviço de Assistência à Saúde da Criança do ministério.
As causas da mortalidade são mais complexas e difíceis de serem combatidas do que eram há 15 anos. Na década de 80, diarréias e infecções respiratórias eram as principais responsáveis pela morte de crianças até 5 anos. Hoje, 48% das mortes nessa faixa etária acontecem ainda na maternidade.
São as chamadas causas perinatais (ocorrem na gestação ou parto). Seu controle é mais difícil do que o das diarréias, pois a ação preventiva tem de visar a mãe.
"Melhorar o pré-natal, a alimentação das gestantes, e reduzir a gravidez na adolescência é muito mais complicado do que ensinar os pais a fazerem soro para combater a desidratação", diz Goretti.

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