São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entenda essa salada que é o tecno

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tecno pra cá, tecno pra lá: a nova música eletrônica não é só o som do momento, mas o assunto do momento. A batalha na seção de cartas do Folhateen prova isso.
O tecno se afirma nos alto-falantes como a música da inovação, da experimentação, da comunhão, da representação sonora dos nossos tempos confusos.
É bem mais que um modismo, já que ele surgiu há mais de dez anos nos EUA e na Europa e já é coisa de massa. A Love Parade, em Berlim, um carnaval de rua tecno, reuniu 1 milhão de pessoas no ano passado.
Então, o que é preciso saber para adentrar nesse universo? Para começar, que tecno é somente um daqueles títulos genéricos para uma imensa e variada quantidade de música feita eletronicamente, em geral repetitiva, dançável, experimental, sem vocais e composta de sonoridade esquisita, viajante e abstrata.
Uma das regras da tecno é a de que não há regras: existe tecno com guitarra, piano e vocais também. E há tecno que não dá para dançar. Há tecno rápido, lento, alegre, nervoso, deprê e por aí vai.
O DJ é o principal personagem do tecno. É quem descobre e veicula as novidades e sabe trabalhar com o efeito que a música produz nas pessoas.
Praticamente todos os artistas/bandas de tecno que importam têm DJs na sua formação. E, seja num clube ou numa rave, a melhor maneira de ouvir tecno é bem alto e com muita gente dançando em volta.
Dentro do que genericamente se chama tecno, inúmeros gêneros brotaram e se desdobraram em inúmeros subgêneros. Os gêneros abaixo são os mais significativos e abrangentes.
Descobrindo que tipo de tecno você gosta, seja ele qual for, você terá muitos discos para comprar, ainda que importados.
Há o tecno puro, que segue a escola original de tecno, surgido nos EUA, em meados dos anos 80. Ele é linear (a harmonia não "sobe" nem "desce"), minimalista e pode ir dos grooves melódicos do Underground Resistance até os pesos-pesados Dave Clarke e Jeff Mills. O Daft Punk faz muito sucesso agora com seu álbum "Homework" porque, embora francês, faz um tecno que reconhece e homenageia referências da história dançante, como funk e disco, até chegar à barulheira atual.
O gênero trance era facílimo de ser identificado quando apareceu, em 90/91: mais melódico e psicodélico. Hoje, com variações que vão do quase pop Robert Miles até o trancecore de Commander Tom, o trance é reconhecível só por meio da estrutura da música. Hipnotiza com sutis variações na harmonia e/ou melodia, provocando um efeito de "subida".
O jungle/drum'n'bass é um daqueles gêneros que não parece com nada que existia antes. Isso porque é o resultado de muita coisa junta: batidas de hip hop todas picotadas em rotação velocíssima, baixos treme-terra lentos de reggae e sons agressivos do tecno. No começo, existia só o termo jungle (um filhote do hardcore). Depois, com acréscimos de soul, jazz, ambient e tantas outras influências diferentes, a coisa se partiu em dezenas de subgêneros.
O termo drum'n'bass (bateria e baixo) é mais usado para definir subgêneros mais secos e minimalistas. Goldie e Photek são alguns nomes importantes.
Já o hardcore passou a ser usado em 91 para designar o extremo mais sem freios do tecno. Na época, bandas como Prodigy e Shut Up And Dance deram os primeiros passos em direção a um tecno mais violento, misturando batidas quebradas rápidas e graves estrondosos (prenunciando o jungle).
O hardcore original se fragmentou em duas facções básicas: o happy hardcore, insano e alegre, e o gabba, insano e nada mais.
O trip hop está no outro lado do espectro tecno. A velocidade é molenga, os climas são introspectivos e parece que o disco está sempre sujo, como é o caso de Sneaker Pimps e Portishead. Só que o trip hop também tem seu lado animado: Chemical Brothers e Fatboy Slim levantam qualquer festa.
Dentro dessa salada, há bandas de tecno que você provavelmente vai gostar ou, ao menos, tem de conhecer. Estão dando o que falar e estourando em toda parte.
O Prodigy lança amanhã seu terceiro disco, "The Fat Of The Land". O Underworld acaba de ter seu eclético segundo disco, "Second Toughest In The Infants", lançado aqui. A versão brasileira inclui o sucesso "Bom Slippy", música-tema do filme "Trainspotting".
O Chemical Brothers também teve seu segundo disco, "Dig Your Own Hole", lançado aqui. Para quem gosta de rock e Beastie Boys é a porta de entrada mais acessível para o mundo tecno.

Para ler mais sobre tecno na Internet, visite o site Rraurl(www.rraurl.com).

Texto Anterior: Brasileira conquista medalha de ouro
Próximo Texto: Uma seleção de músicas para cada categoria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.