São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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Moradores aproveitam o sol e as festas paralelas no último domingo colonial

GILSON SCHWARTZ; JAIME SPITZCOVSKY
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Nos últimos dias choveu e houve até previsões de tufões para hoje. Mas a meteorologia parece acompanhar as idas e vindas diplomáticas e, ontem, Hong Kong amanheceu sob um sol forte que favoreceu as várias festividades programadas para celebrar a devolução do território à China.
No local da cerimônia oficial, grupos de crianças, jovens e soldados revezavam-se o dia inteiro ensaiando os números programados para hoje. Soldados britânicos das várias divisões, carregando metralhadoras modernas pelos salões refrigerados do Centro de Convenções, disputavam as escadas rolantes com os curiosos que vieram conhecer a pintura que é uma obra-prima de realismo socialista, pendurada no segundo andar do prédio, celebrando a devolução.
No estreito que separa Wanchai de Kowloon, as embarcações levavam durante todo o dia os interessados no festival "Asia Extravaganza 1997", no Kowloon Park. Uma quermesse no mais tradicional estilo caipira oriental, havia desde barraquinhas vendendo comidas típicas até as inevitáveis barracas de tiro ao alvo ou com produção instantânea de chaveirinhos com fotos que, no verso, sobre um fundo vermelho, trazem a inscrição "um país, dois sistemas".
Sob um calor de 40 graus, a diocese de Hong Kong patrocinou um concurso da danças típicas e modernas, protagonizado em larga medida por um contingente de empregadas domésticas filipinas.
Nas imediações, os estrangeiros pareciam mais interessados em fazer compras ou matar a fome em lanchonetes como Hard Rock Cafe ou Planet Hollywood.
Mais tarde, o Kowloon Park abrigou outra "extravaganza" musical, com artistas pop da região, como Banana Rama, Mango Groove, Zhou Feng, Yosuke Eguchi e Bally Sagoo. Tudo patrocinado por Betty Tung, a futura primeira-dama de Hong Kong assim que seu marido, Tung Chee-hwa, receber as chaves da cidade dos administradores britânicos, hoje à noite (tarde em Brasília).
O último domingo colonial teve também alguns momentos de tensão, já que o aparato de segurança torna-se mais visível com a aproximação da cerimônia principal. O tráfego em torno do Centro de Convenções ficou mais pesado, e os bloqueios passaram a incluir o policiamento ostensivo das águas que banham a área central de Hong Kong por botes do Exército.
Fama fácil
Há pesada movimentação também de jornalistas. Para quem quiser ficar famoso durante alguns segundos, Hong Kong é o lugar ideal nestes dias. Cerca de 8.000 jornalistas percorrem as ruas da cidade em busca de protestos anti-Pequim, e atos com um punhado de ativistas terminam cercados por dezenas de jornalistas e câmeras.
No sábado, cinco integrantes de um grupo anticolonialismo queimaram uma bandeira britânica cercados por 20 repórteres.
Ontem, um protesto de 14 integrantes da Frente Unida contra o Conselho Legislativos provisório, a Assembléia montada por Pequim, movimentou a região ao lado do hotel New World Harbour View e próxima ao Centro de Convenções e Exposições.
Às 17h, os manifestantes, liderados pelo ainda deputado Andrew Cheng, leram um manifesto contra a dissolução do atual Conselho Legislativo e sua substituição pela assembléia dócil a Pequim. A leitura foi em cantonês, o dialeto chinês de Hong Kong, e em inglês, com carregado sotaque britânico, para permitir que jornalistas estrangeiros e turistas entendessem.
Ao final, os ativistas gritaram em inglês, cada um três vezes: "Não ao Conselho Legislativo provisório!", "Vida longa à democracia!", "Poder para o povo!".
Os jornalistas e fotógrafos se acotovelavam. Os ativistas soltaram pombas, como símbolo da liberdade. Algumas aves, no entanto, se recusaram a voar.
(GILSON SCHWARTZ e JAIME SPITZCOVSKY)

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