São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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1º de julho: a nação tem pressa

FERNANDO BEZERRA

Há pouco mais de um ano havia muita inquietude nos círculos empresariais por não se saber exatamente quais seriam os rumos do Plano Real. Temia-se o pior: um adiamento indefinido das reformas constitucionais certamente faria naufragar a estabilização e, com ela, as melhores expectativas de modernização da indústria.
Foi o que levou cerca de 3.000 empresários a concentrarem-se em Brasília, em maio do ano passado, numa marcha tão memorável quanto inédita, na busca de entendimento com o governo e o Congresso para levar à prática, de forma transparente e decidida, uma agenda de prioridades.
O mesmo espírito predominou no "Fórum das Reformas: A Nação tem Pressa", que congregou na Fiesp mais de mil empresários, os presidentes do Congresso e da Câmara, políticos e economistas de inquestionável conhecimento da realidade brasileira.
Para manter vivas as nossas propostas, vamos voltar a nos reunir em Brasília, no dia 1º de julho, para um encontro, na sede da CNI, com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Como naquela data o Plano Real estará completando o seu terceiro aniversário, é indispensável o comparecimento maciço de empresários de diferentes setores, para que, mais uma vez, possamos transmitir ao governo e à sociedade, além do incondicional apoio ao plano, a sinceridade de propósitos que tem orientado toda uma sequência de ações de conteúdo modernizador.
Na manifestação passada, fizemos ver ao presidente que em momento algum nos perfilávamos entre aqueles que faziam oposição ao plano.
Ao trazer à luz o papel estratégico da indústria no desenvolvimento, assinalar o imperativo das reformas fiscais e tributárias como parte de uma abrangente política de redução de custos produtivos e, acima de tudo, reivindicar a progressiva redução do "custo Brasil", estávamos proclamando inquestionável apoio à estabilização.
Entre os industriais, o pensamento dominante era, como continua sendo, reforçar a democracia e fomentar a paz e a estabilidade, contribuindo para elevar o país à condição de autêntica república de cidadãos.
O tempo passou. Nossa agenda de reivindicações ganhou ainda maior atualidade, sobretudo porque recente estudo da Fipe demonstra a intensidade dos prejuízos que o adiamento das reformas vem causando à nação: deixamos de crescer 11% do PIB, o que é mais do que lamentável. É inaceitável.
Mais do que o balanço das conquistas da estabilidade, é necessário avançar na direção do futuro. Pelas suas repercussões positivas, o Real está perfeitamente assimilado pela população. Onde havia forte cultura inflacionária, se afirma a tendência de cultura típica das economias de moeda estável, sem ciranda financeira ou alta indesejável dos preços.
Mas os veios profundos da estabilidade, que deve estar na linha de frente das iniciativas oficiais, se encontram no caminho para que as posições conquistadas sejam ampliadas. Isso só ocorrerá havendo crescimento com distribuição de renda e sem déficit público.
A complexidade do ambiente social, as exigências de modernização da indústria e os impasses vividos pelo conjunto do tecido econômico são circunstâncias que obrigam o governo a eleger de uma vez por todas um modelo de desenvolvimento compatível com as aspirações da sociedade para o século 20. As pesquisas de opinião indicam que as mudanças são bem-vindas e respaldadas pela grande maioria.
Não há, portanto, porque adiá-las. Se houver determinação e apoio da sociedade, o impasse das reformas pode ser perfeitamente vencido. É preciso alçá-las à condição de meta essencial. Essa atitude tem que ser tomada agora.
É fácil explicar: no próximo ano teremos eleições gerais, em todos os níveis, o que certamente vai mobilizar tantas energias que levará o país a uma certa inércia, como é comum.
Politicamente, o cenário está preparado: as privatizações ganharam novo ímpeto, com a venda da Vale do Rio Doce, o presidente desfruta de credibilidade dentro e fora do país, e o cidadão amadureceu a convicção de que a estabilidade, não a inflação, é que faz circular riquezas e produz bem-estar.
É exatamente isso que pretendemos dizer ao presidente Fernando Henrique Cardoso no encontro do dia 1º de julho. Ele certamente irá compreender que o empresariado não está na contramão da história, até porque apóia a ação do presidente, que tem sido o condutor do maior e mais profundo processo de modernização do país.
Se insistimos em apresentar uma agenda de prioridades e nos mobilizamos para nos fazermos ouvir, é apenas porque, seguindo a tendência da sociedade, temos evoluído na concepção do país que almejamos construir.
Como o presidente, queremos uma sociedade moderna, justa, solidária e capaz de evitar que se reacenda o ciclo vicioso de estagnação, gerado por planos que no passado ficaram limitados ao controle inflacionário, sem saber como evoluir para um estágio superior, de desenvolvimento sustentado.

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