São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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À espera da reintegração com a China, Macau quer evitar clima de confrontação

ANTONIO DUARTE
JOÃO SEVERINO

ANTONIO DUARTE; JOÃO SEVERINO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MACAU

Território sob administração portuguesa passa ao controle de Pequim em dezembro de 1999

O fim da contagem regressiva para a entrega de Hong Kong fez Pequim começar outra, para a devolução de Macau. O território sob administração portuguesa passa ao domínio português no dia 20 de dezembro de 1999.
Ao contrário do que ocorreu na devolução de Hong Kong, porém, deve haver muito menos controvérsia daqui a dois anos. Macau não é um pólo capitalista tão importante quanto a vizinha Hong Kong, e Portugal não fez esforço para mantê-lo sob seu controle.
A principal preocupação dos macaenses é justamente evitar o clima de confrontação que marcou a entrega de Hong Kong.
"Por vezes, pretende-se colocar as duas questões no mesmo nível, mas eu as considero essencialmente diferentes. Hong Kong era uma colônia britânica, e Macau é um território onde Portugal está estabelecido há mais de quatro séculos, por consentimento da China", diz o general Melo Egídio, 76, o governador entre 1979 e 1981.
Melo Egídio está tentando convencer Pequim a não instalar um relógio para contagem regressiva, semelhante ao que até ontem contava, na praça Tiananmen, em Pequim, os dias e horas que faltavam para a entrega.
O militar considera que a contagem regressiva é uma espécie de confrontação, desnecessária no caso do território.
A Lei Fundamental de Macau -espécie de mini-Constituição que irá reger o território de 19,3 km2 após dezembro de 1999- diz no seu preâmbulo, por exemplo, que o encrave no sul da China foi sendo "gradualmente ocupado" pelos portugueses a partir da segunda metade do século 15.
Ontem, o presidente português, Jorge Sampaio, disse em Lisboa que o processo pelo qual passou Hong Kong não deve influir na entrega de 1999 -a não ser que "as coisas não aconteçam como previsto em Hong Kong". "As relações entre britânicos e chineses sempre foram diferentes das nossas", disse Sampaio.
Os seja, Portugal quer ter a certeza de que a China vai manter sua palavra no que diz respeito à manutenção das instituições de Macau. Lá, por exemplo, o Legislativo foi autorizado a continuar funcionando, ao contrário do que ocorreu em Hong Kong.
Isso acontece, em parte, porque Macau tem uma tradição de protestos políticos menor do que Hong Kong. A última vez que houve manifestações contra Pequim no território português foi em junho de 1989, devido ao massacre da praça Tiananmen. Na época, dois terços dos 500 mil macaenses saíram às ruas para protestar.

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