São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997 |
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'Pílula' anti-Aids causa corrida a clínicas
LUCIA MARTINS
A corrida está sendo comparada ao efeito causado pela divulgação, no ano passado, dos resultados positivos obtidos pela combinação de medicamentos contra o vírus HIV, o chamado coquetel. Segundo eles, a "pílula 24h" da Aids (uma comparação com o remédio que evita gravidez se tomado 24 horas após a relação sexual) é um grande risco porque pode estimular as pessoas a adotar comportamentos de risco. "Quando divulgaram o coquetel, todos começaram a pensar que podiam ter relações sem camisinha. O mesmo está ocorrendo agora. Já chegaram pacientes aqui dizendo que 'agora liberou' porque podem tomar os remédios no dia seguinte", afirma o infectologista Caio Rosenthal. "Fazer os pacientes pensarem que podem ter cura no dia seguinte é perigoso, e há muitos médicos se aproveitando disso", reforça Vicente Amato Neto, diretor da Divisão de Doenças Infecciosas e parasitárias do Hospital das Clínicas. Amato Neto se refere a uma onda de clínicas norte-americanas que estão aplicando o coquetel em quem teve o azar de ter a camisinha furada na relação sexual. O "absurdo" desse tipo de tratamento, segundo os infectologistas, tem duas origens: não há comprovação científica de que usar o coquetel em quem foi exposto ao vírus no dia seguinte tenha resultados positivos. Além disso, os efeitos colaterais dessa combinação de drogas são muito grandes. Segundo o infectologista Davi Lewi, um em cada quatro pacientes que tomam as drogas tem alguma complicação. Esses efeitos variam de uma simples náusea a uma anemia profunda. Além disso, diferentemente da pílula antigradivez, o coquetel tem de ser usado por 30 dias a um custo de R$ 1.500. Alguns médicos, no entanto, admitem receitar a "pílula" em alguns casos. "No caso de a camisinha estourar em uma relação em que um dos dois é soropositivo, eu receito os remédios porque o risco é grande e possível", diz Lewi. A mesma opinião é compartilhada por Caio Rosenthal. "Nesse caso, você abre uma exceção. Mas tem que avaliar muito bem antes de sair receitando remédios." O infectologista David Uip não concorda. "Não há nenhum trabalho que comprove a eficácia disso. Por isso, acho que o médico não deve tentar." A única exceção já aceita até pelo Ministério da Saúde é o uso do coquetel em profissionais de saúde que tiveram contato com sangue contaminado durante o trabalho. Texto Anterior: Marcha quer reunir 20 mil Próximo Texto: Coquetel 'pára' vírus Índice |
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